quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

V Congresso Nacional do MC




“Necessário vos é nascer de novo. O Espírito sopra onde quer. A ação do Espírito Santo no Brasil e no mundo. MC: Sopro do Espírito”.

A Igreja que nasce de novo pela Ação do Espírito Santo.
Dom Benedito Beni dos Santos

1.      Quem é o Espírito Santo?

             Saber quem é Jesus Cristo não é difícil. Ele é o Verbo encarnado. O Filho de Deus que assumiu a nossa natureza e condição humana. São João, em sua primeira carta, se refere ao Verbo da Vida, que nossos olhos viram, nossos ouvidos ouviram e nossas mãos apalparam (cf.1Jo, 1,1). Nada disso pode ser dito do Espírito Santo, pois Ele não se encarnou, não assumiu um rosto humano. Permanece para sempre na condição de espírito. Sua “quenosis” (escondimento) é mais profunda que a do Filho. O Filho, em sua “quenosis,”assumiu um rosto humano, recebeu um nome: Jesus. O Espírito Santo, ao revelar-se, não assumiu um rosto humano. Não recebeu um nome. Espírito também o Pai e o Filho são. Santos ambos também o são. A teologia sempre encontrou dificuldade para atribuir um nome à terceira Pessoa da Trindade Santíssima. S.Agostinho, partindo do fato de que a terceira Pessoa da Trindade é o dom eterno do Pai ao Filho, atribui-lhe o nome de Dom. O Espírito Santo é pois Deus, que vem até nós, como presente, como Dom. É, na verdade, como observou um teólogo anglicano, Dom de doação. Dom que produz em nós outros dons.
 Mas quem é o Espírito Santo? Jesus, em sua pedagogia de mestre, usou diversos símbolos para mostrar quem é Ele. Jesus comparou o Espírito Santo ao vento(cf.Jo 3, 8). Ninguém vê o vento. Mas ninguém duvida que o vento existe por causa dos efeitos que ele provoca. O vento refresca os nossos corpos. Sacode os galhos das árvores. Move embarcações.Sabemos que o Espírito Santo existe por causa dos efeitos que provoca em nossa vida. Jesus o comparou também com a água. 
A água é fonte de vida. Sem água não existe vida para as plantas, para os animais, para os seres humanos. Sem água, a terra se transformaria num deserto. A água viva, que Jesus prometeu à Samaritana(cf.4, 10), designa o Espírito Santo e também o dom da fé na pessoa de Jesus, que só é possível pela ação do mesmo Espírito. O autor do quarto evangelho nos mostra Jesus presente, em Jerusalém, por ocasião da festa das tendas. E, no dia mais solene da festa, ele se coloca na porta principal do templo e exclama solenemente: “Se alguém tem sede, venha a mim e beba. Quem crê em mim, como diz a Escritura, de seu seio jorrarão rios de água viva”(Jo 7, 37-38). E o evangelista teólogo observa: “Ele falava do Espírito que deviam receber os que nele cressem; pois não havia ainda Espírito” (Jo 7, 39), ou seja, o Espírito ainda não havia sido dado. Também a água que jorrou do coração de Jesus, aberto, na cruz, pela lança do soldado (cf.Jo 19, 33), é um símbolo do dom do Espírito. O Espírito Santo é pois semelhante à água. É ele que nos comunica a vida que vem do alto: “Quem não nasce da água e do Espírito não pode entrar no reino de Deus” (Jo 3, 5).

2.            Jesus Cristo, um evento do Espírito Santo.   
                                                                    
         Jesus de Nazaré é um evento do Espírito Santo. Ele foi concebido pela ação do  Espírito (cf.Lc 1,35).
 Cresceu cheio de graça e verdade ( cf. Lc 2, 52), isto é, pleno do Espírito Santo. Segundo o quarto evangelho, ele possuía o Espírito sem medida (cf.Jo, 16, 14). No batismo, o Espírito Santo posou sobre ele para revesti-lo de sua messianidade (cf Lc 3, 22). A força para cumprir a sua missão não provinha do cargo, mas da presença do Espírito. Impelido pelo Espírito, ele se dirigiu ao deserto a fim de preparar-se, num retiro de quarenta dias, para iniciar a sua missão. No deserto, observa S. Lucas, ele era conduzido pelo Espírito. Na força do Espírito, venceu todas as tentações que procuravam desviá-lo de sua missão de Messias redentor (cf Lc 4, 1-13). Impelido pelo Espírito, voltou a Nazaré, para iniciar, na sinagoga de sua cidade, a sua missão. Ali anuncia o cumprimento da profecia messiânica: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para evangelizar os pobres” (Lc 4, 18). Tudo o que se realizou, naquele dia, na sinagoga de Nazaré, foi uma síntese de toda a vida de Jesus. Na força do Espírito, ele não só prega a Palavra, mas também realiza seus prodígios. Afirma o quarto evangelho que, ao transformar a água em vinho novo nas bodas de Cana, ele manifestou a sua glória (cf. Jo 2, 11), ou seja, manifestou o Espírito agindo nele. O evangelho afirma que de Jesus saía uma força que curava a todos. Tratava-se do Espírito Santo nele presente e que dele saía para operar ao seu redor.  É, pela força do Espírito, que ele expulsa os demônios( cf. Mt, 12, 28 ). Na alegria do Espírito, orou para agradecer ao Pai o sucesso da missão dos discípulos (cf. Lc 10, 21-22).Movido por um Espírito eterno, segundo a carta aos Hebreus, ele entregou a sua vida na cruz (cf.Hb 9,14). Mas, antes de morrer, entrega o Espírito à sua comunidade, representada ao pé da cruz (cf. Jo 19, 30).  E a missão terrestre de Jesus só termina com o envio do Espírito Santo em Pentecostes.

          3. A Missão do Filho e a missão do Espírito. 
                                                                                          
        A missão do Filho e a missão do Espírito são diferentes. O Filho age enquanto Verbo encarnado. O Espírito Santo age de modo diferente, pois ele não se encarnou. Ambas as missões porém são complementares e iguais em dignidade e valor.
         O Espírito é o intérprete de Cristo. Ele não diz novas Palavras, mas torna sempre nova a Palavra de Cristo. Faz com que sua Palavra seja compreendida, interiorizada e obedecida. Faz com que sua Palavra se torne história.
        Missão do Espírito ainda é fazer com que todas as pessoas se tornem discípulas de Cristo e vivam em comunhão com Ele. “Ninguém pode dizer, escreve São Paulo, Jesus é o Senhor a não ser no Espírito”( 1Cor 12,3).Dizer Jesus é o Senhor não consiste apenas realizar a profissão fundamental da fé. Significa fazer de Jesus o Senhor de nossa vida.  Entregar a Ele a nossa vida. Fazer com que ele governe a nossa vida, os nossos pensamentos, sentimentos, a nossa conduta, os nossos projetos.

       3.      A Igreja: Corpo de Cristo e Templo do Espírito Santo.

A Lumen Gentium, seguindo a tradição patrística, mostra que a Igreja tem uma longa história. Ela é componente do projeto salvífico de Deus e, por isso mesmo, esteve em processo de gestação em toda a história da salvação. Foi prefigurada desde o início da criação. Foi preparada na história de Israel. Foi fundada nos últimos tempos. Foi manifestada ao mundo no dia de Pentecostes( cf.LG, n.2). Examinemos o sentido de cada uma dessas afirmações. A Igreja foi prefigurada desde o início da criação naquelas alianças que Deus realizou com representantes da humanidade como, por exemplo, Abel e Noé. Dessas alianças surgiram verdadeiras experiências religiosas. Algo dessas experiências –a adoração de Deus, a busca da salvação- passou para a Igreja de Jesus Cristo.
A Igreja, continua o texto da Lumen Gentium, foi preparada na história do Povo de Israel. Do antigo Israel a Igreja herdou as Escrituras do Antigo Testamento. Eram as únicas Escrituras que a comunidade apostólica possuía. Ela tornou-se mestra em fazer a leitura cristológica do Antigo Testamento. Muita coisa da liturgia da sinagoga passou para a Igreja de Jesus Cristo.
A Igreja foi fundada nos últimos tempos, ou seja, no tempo do Jesus histórico e no tempo do Cristo pascal. Durante o seu ministério público, Jesus colocou diversos atos fundantes da Igreja: a escolha dos Doze, a oração dominical ensinada aos discípulos, a missão conferida a Pedro de ser o fundamento visível da sua comunidade messiânica e, sobretudo, a instituição da Eucaristia, na qual, o cordeiro pascal foi substituído por seu próprio corpo e o cálice da antiga aliança pelo cálice da nova aliança no seu sangue. Assim como Israel tornou-se o Povo de Deus a partir da antiga aliança no Sinai, Jesus, ao celebrar na Ceia uma nova aliança, deu origem ao novo Povo de Deus. Ato fundante da Igreja foi também a experiência pascal. A Igreja faz parte da novidade que a ressurreição do Senhor provocou na história. Desde que houve um grupo de homens e mulheres, que acreditou na ressurreição de Jesus, temos algo completamente novo com relação ao antigo Israel.
A Igreja porém só acabou de nascer, só foi inaugurada e mostrada ao mundo no dia de Pentecostes, quando a comunidade dos discípulos de Jesus, recebendo o dom do Espírito Santo, se transformou em movimento missionário. Sem o dom do Espírito Santo, a Igreja não existiria. A Igreja é, ao mesmo tempo, o corpo de Cristo e o templo do Espírito Santo. É o que nos mostra o livro dos Atos dos Apóstolos. Lucas narra não apenas um Pentecostes, mas quatro Pentecostes sucessivos: o Pentecostes da inauguração da Igreja (cf. At, 2, 1-12); o Pentecostes da Igreja de Jerusalém ( cf. At 4, 31); o Pentecostes da entrada dos gentios na Igreja (cf. At 11,15) ; e o Pentecostes da Igreja de Éfeso( cf.At 19, 1-6). Com a narração destes quatro Pentecostes, Lucas mostra que o dom do Espírito Santo acontece em toda a vida da Igreja.A Igreja não nasce de baixo. Nasce do alto. Ela é graça. É dom do Espírito Santo. A Igreja não existe sem o Espírito Santo. Quando a comunidade envia Paulo e Barnabé em missão, diz o livro dos Atos que eles foram enviados pelo Espírito Santo (cf.At 13,2). Quando Ananias e Safira mentem à comunidade e são castigados de morte, afirma o livro dos Atos que eles mentiram ao Espírito Santo ( cf.At.5,3) . Mentir pois à Igreja é mentir ao Espírito Santo. A assembléia dos Apóstolos, chamada de primeiro concílio, termina com essas palavras: pareceu bem ao Espírito Santo e a nós determinar o seguinte... (cf. At 15,28).Quando a Igreja determina é o Espírito Santo quem determina.
A Igreja, que nasceu católica em Pentecostes, porque nasceu missionária, é levada, através da missão, às diversas partes do mundo. Por isso mesmo, a missão é a mais importante causa da Igreja. É a causa das causas, porque está ligada ao projeto salvífico de Deus. Segundo o decreto Ad Gentes do Vaticano II, a missão é a expressão do desígnio salvífico de Deus. É a realização pública da história da salvação. Já no Antigo Testamento, está presente a missão. A escolha de Israel para tornar-se o Povo de Deus não foi um privilégio, mas uma vocação, um chamado para ser povo missionário. Segundo uma lenda rabínica, no Sinai, a voz de Deus se fez ouvir. Essa voz se dividiu em sete vozes e, em seguida, em setenta vozes. No tempo da revelação no Sinai, pensava-se que os povos da terra fossem em número de setenta. No Sinai, pois, Israel se torna depositário da revelação de Deus a fim de anunciá-la a todos os povos da terra. Torna-se pois um povo missionário.
No Novo Testamento, a primeira coisa que faz Jesus, quando inicia o seu ministério na Galileia, é reunir discípulos. Jesus não é missionário sozinho, mas junto com seus discípulos. No tempo de Jesus, também os rabis tinham discípulos: pessoas que os procuravam para servi-los e aprender as lições da Torá. Ser discípulo de um rabí era sinal de prestígio social. Jesus também tinha discípulos mas em condições totalmente diferentes. Era Jesus quem chamava os seus discípulos. Ser discípulo era uma vocação. Jesus tinha discípulos não para servi-lo, mas para prepará-los para a missão. Preparação teórica e prática. Aos Doze, como mostra o evangelho, Jesus dava instruções especiais. A preparação era também prática. No evangelho de Mateus, Jesus envia os Doze em missão( cf.Mt.10, 1-17). No evangelho de Lucas, envia setenta e dois discípulos em missão( cf. Lc 10, 1-16). No tempo em que Lucas escreveu o evangelho, julgava-se que os povos da terra fossem em número de setenta ou setenta em dois. Lucas quer sublinhar, com esse número, o universalismo do evangelho: deve ser anunciado a todos os povos da terra. Os evangelhos terminam com Jesus enviando os discípulos em missão. Ele vai para o céu, mas a missão não termina. Deve ser continuada pela Igreja, comunidade de seus discípulos.
Sem o dom do Espírito Santo, não existe a missão. O Espírito Santo move, como aconteceu em Pentecostes, os pés do missionário. Segundo o decreto Ad Gentes, o Espírito desperta, nas pessoas, o espírito missionário como despertou em Jesus. Ele dirige toda a atividade missionária da Igreja. Na realidade, ele é o primeiro missionário, aquele que chega antes de todos para preparar o terreno. Por isso mesmo, a missão não é uma superestrutura acrescentada à cultura e à vida de um povo. Ela é resposta a uma busca. Consiste em lançar a semente da Palavra no terreno preparado pelo Espírito Santo. A finalidade da missão é suscitar, pela ação do Espírito, as Igrejas locais, destinadas a continuar a obra missionária de Jesus. Pela atividade missionária, a Igreja que nasceu em Pentecostes pela ação do Espírito, renasce em todas as partes do mundo.
Atualmente, está havendo na Igreja, pela ação do Espírito, um novo despertar da consciência missionária. Expressão desse novo despertar, em âmbito nacional, é o projeto elaborado pela CNBB: Queremos ver Jesus, caminho, verdade e vida. Expressão desse  novo despertar da consciência missionária, em âmbito de Regional Sul 1, é o Pamp, Projeto de Ação missionária permanente. Hoje, na civilização urbana, a paróquia, como comunidade acolhedora , já não atinge a todos. Para que ela possa atingir a todos, é necessário que ela se torne comunidade missionária, comunidade que sai ao encontro das pessoas nos diversos espaços sociais: a família, a escola, os hospitais, as prisões, as ruas etc.
Fazer da paróquia urbana uma comunidade missionária não é fácil, pois a missão sempre enfrenta obstáculos como nos mostra a primeira história da missão – o Livro dos Atos dos Apóstolos. Nas origens, a missão enfrentou o obstáculo da perseguição, da magia, da idolatria, da longas distâncias a serem enfrentadas com meios rudimentares. Hoje, ela enfrenta os obstáculos do secularismo, do consumismo, da idolatria do mercado, do hedonismo. Na encíclica Redemptoris Missio, João Paulo II recorda que os maiores e os mais difíceis obstáculos se encontram no interior da Igreja:  acomodação,  passividade,  falta de idealismo e de iniciativas. Mas, como nos mostra o Livro dos Atos, a missão vence, na força do Espírito, todos os obstáculos. O Espírito, que transformou, em Pentecostes, a comunidade dos discípulos de Jesus em movimento missionário, garante o sucesso da missão. Mas, o sucesso da missão não é a recompensa do missionário. O sucesso não deve ser atribuído a ele, mas ao Espírito divino. Qual é pois a recompensa do missionário? A resposta foi dada por Jesus. Quando os setenta e dois discípulos, por ele enviados, voltaram cheios de alegria pois a missão tinha sido um sucesso, Jesus recordou-lhes que a recompensa do missionário não é o sucesso. Sua recompensa é ter o nome escrito no céu pelo dedo de Deus.
                                                                              Dom Benedito Beni dos Santos

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