quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

III Congresso do MC: Pe. Paulo Cabral




Fundamentação Espiritual - Pastoral do Tema

Pe. Paulo Cabral



Bom dia! Queria começar pedindo, para fazer uma pequena retificação, que na realidade pode ser grande; eu sou professor, mas não é do Instituto Teológico, é da Universidade Federal da Paraíba. Acho que talvez na hora que escrevi lá, professor, sem dizer de onde era, era lógico que o padre fosse professor do Instituto Teológico Então quem tiver o programinha e puder corrigir isso... 

Gente, queria também colocar algumas coisas que podiam servir de pano de fundo. A primeira coisa seria: o que é pastoral? Na realidade pastoral é a missão da Igreja, quando Jesus confia a Pedro o seu rebanho, é isso que Ele está fazendo, Ele está confiando justamente o pastoreio, então ser pastor é a missão primeira da Igreja, ela vai acontecer, não somente com Pedro, mas com todos os batizados em unidade, congregados em torno dos Apóstolos, que são os Bispos, então pastoral é isso. O que é que o pastor deve fazer? Eu gostaria de citar um trechinho do que o pastor não deve fazer, que está em Ezequiel 34, somente alguns versículos, a partir da segunda  parte do segundo versículo. “Ai dos pastores de Israel que apascentam a si mesmos, não devem os pastores apascentar o seu rebanho? Vós vos alimentais com leite, vos vestis da lã, sacrificais as ovelhas mais gordas, mas não apascentais o rebanho, não restaurastes o vigor das ovelhas abatidas, não curastes a que está doente, não tratastes a ferida daquela que sofreu fratura, não conduzistes a desgarrada, não buscastes a perdida, mas dominaste sobre elas, com dureza e violência, por falta de pastor elas dispersaram-se e acabaram por servir de preza para todos os animais do campo e se dispersaram, o meu rebanho dispersou-se por todos os montes, por todos os outeiros elevados e por toda a superfície da terra, dispersou-se meu rebanho, não há quem o procure ou quem vá em sua busca”. 

Todo esse capítulo vai falar disso, mais na frente o Senhor vai dizer e “Eu vou destituir vocês pastores e eu mesmo vou chamar minhas ovelhas de todos os cantos onde elas estão dispersas, para que eu mesmo as apascente”; então ser pastor é tudo isso que foi dito, agente poderia sintetizar em poucas palavras, por exemplo: acolher,  acolher nem sempre significa apoiar, concordar, não é? E olhe lá apoiar um pouco mais, acolher, abrir o coração, abrir os braços, chegar perto, dispor-se, a acolher. Outra palavra muito importante que é primordial é amar, amar é querer o bem, é ajudar, confortar, etc. O próprio Deus é amor. Então com essas duas palavras, agente poderia ter tudo. 

A nossa Igreja exerce esse pastoreio, sobretudo a partir da Hierarquia, a partir do magistério como agente chama, porque também o ensino, a formação é importantíssima nesse exercício de ser pastor, mas exerce esse pastoreio com todo o batizado, com todo aquele que faz parte da Igreja. No batismo nós recebemos aquele munos tríplice, de profeta, santificador e rei, então é a Igreja inteira que vai, de certa forma, ter essa ação sobre o mundo, então o pastoreio é mais amplo, não é somente sobre as ovelhas do rebanho católico ou do rebanho cristão, mas é sobre o mundo inteiro, as pessoas, as coisas, a vida, os animais, o céu, a própria natureza que é um organismo vivo. Então esta é a função do pastor. 

Então como é que agente vai poder ver “ Eis que faço novas todas as coisas” na sua fundamentação pastoral? Eu gostaria de em segundo lugar passar um pouco da história, desde a criação, com Eva, com Adão, com os patriarcas, depois agente vai chegando a Moisés, que já em si traz os três graus de forma mais explícita e unificada nele, os Juizes e finalmente, depois do período dos reis aquilo vai se dividindo, há profetas que são só profetas, há sacerdotes que fazem só o culto e há aqueles que cuidam do governo, que são os reis. Então isso vem até que a grande novidade, Jesus Cristo, vai acontecer. 

Somente de passagem, eu queria citar uma situação: você pode ter os dois livros juntos Esdras e Neemias, mas mostrar um pouco esse desejo de reunir de novo o rebanho que tinha sido dispersado, por causa do exílio, então em todo século quinto, todo aquele movimento de restauração depois do Edito de Ciro, vai fazer com que se vá repensar, como conduzir o povo. Aí começa a parecer o judaísmo, em torno da Palavra de Deus as pessoas vão se reunindo, é onde vai aparecer a Sinagoga, lugar de encontro não somente religioso, mas lugar de encontro da comunidade social, política, ensino educacional, etc., decisões, tudo aquilo que vai acontecer, cada vilazinha tinha uma sinagoga e uma cidade grande podia ter mais de uma, então as coisas vão se concentrando desse jeito, quer dizer, Deus já achando ainda no judaísmo a maneira, mas vem o acontecimento Jesus Cristo. 

No acontecimento Jesus Cristo, agente se espanta porque Ele renova tudo, mas diz que não vem abolir a lei nem um só “jota”, está em Mateus 5,17. Ele não vem  revogar, mas fazer o contrário, dar plenitude a lei, porque nós muitas vezes entendemos a lei apenas de forma legal, entendemos a lei apenas  por aquilo que está escrito, ela é então limitada, mas a lei entendida pelo que ela produz, pelo que ela faz acontecer, pelo que brota dela como raiz. Aí sim, é que agente vai tentar alcançar essa plenitude que Jesus Cristo vai nos dar e o que vai acontecer depois de Jesus Cristo, os Apóstolos simplesmente não mudaram, ficaram acuados, medrosos e aí vem Pentecostes.

É em Pentecostes que se completa a renovação naquela perspectiva que o padre Francisco citou  ontem: O já e ainda não, quer dizer que a criação já está renovada? Já, mas ainda não, ela está se renovando, ainda não completamente renovada, então essa perspectiva do já e do ainda não é que agente vai tentar colocar nessa perspectiva pastoral. Então vejam lá o que é que vai acontecer depois de Pentecostes. Depois de Pentecostes as Sinagogas vão ser chamadas a uma mudança, guardando tudo que tinham, mas não com aquela rigidez da lei, a norma principal agora era a liberdade cristã, era a caridade, a comunhão fraterna e aí começa a se tentar renovar o que não se consegue muito, mas mais na frente no lado de fora de Israel, são mais ouvidos, alguns enxotam, sobretudo aqueles missionários que vão pra os gentios: Paulo, Barnabé, Silas, Lucas, João, Marcos e outros que vão levando a Palavra para a Europa. 

Ocorre então, pelo que nos interessa, a inculturação do cristianismo na Europa, assumindo novas formas, nova maneira de ser, mas guardando o sagrado depósito da fé. 

Como cuidar hoje no Brasil na situação atual, dessas ovelhas, desse rebanho? Aí eu gostaria de citar o documento 61, as diretrizes novas para evangelização e dizer que em muitos pontos se percebe que há um desejo muito grande de atingir todas as pessoas, as afastadas, até as não crentes, atingi-las com a comunicação da verdade, com a transformação de vida, cuidando do meio ambiente, do mundo, da sociedade.  No primeiro dia, Arnaud nos falava das novidades do mundo, nos falava daquilo que agente chama: mundialização ou globalização, da evolução, da técnica do progresso e que muita gente tem medo, mas já há autores que estão começando a ver com uma certa esperança, todo esse processo e por um lado nos choca porque se abate de certa forma contra valores rígidos, valores tradicionais, mas ao mesmo tempo, provoca uma definição de quem seguia esses valores sem criticar, sem ter uma posição pessoal, mas apenas por herança, por aprendizado.

Então hoje nós somos chamados a nós mesmos. Estabelece-se a confusão mas ao mesmo tempo se estabelece a dúvida e se estabelece também a busca da verdade. Então quais seriam as balizas e quais seriam as maneiras pastoral e práticas de se fazer isso, nesse momento eu vou tentar citar uma experiência muito prática, mas que está começando a dar certo, em todo o canto, uma idéia que nasceu da cabeça de D. Valdir Calheiros, bispo de Volta Redonda e que depois foi aprimorada pelo padre Afonso Pastore, falecido este ano e que em cada lugar vai se estabelecendo, vai assumindo novas faces mas no fundo no fundo é o casamento entre as comunidades de base e a espiritualidade carismática, desse casamento outros de renome nacional já tinham falado, às vezes explicitamente, às vezes implicitamente, como por exemplo:  frei Carlos, o frei Beto, Leonardo Boff, para citar o nome de três, que tenham esse respaldo, que de certa forma o povo respeita bem.

 Então como é que isso se processa, agente está retomando nesta experiência os  retratos da comunidade inicial que agente sabe que nunca aconteceram em plenitude Estamos também retomando a avaliação das CEBS feita por elas mesmas nesse último encontro intereclesial, no mês de julho próximo passado e estamos tomando a caminhada da evolução e do trato dos carismas dentro da Igreja sobretudo aqui no Brasil. O que é que se tira daí? Aquele versículo 47 do capítulo 2 dos Atos dos Apóstolos, ele vai dizer que o grupo dos fiéis era freqüente, a quatro pontos importantíssimos: Os ensinamentos dos apóstolos, a comunhão fraterna, a fração dos pães e as orações. Agente percebeu que a comunhão fraterna é uma coisa para a vida diária, é uma coisa que tem que acontecer no agir, então agente já vai estimulando na formação das comunidades e vai estimulando as pessoas desde o começo já irem partilhando, quem tem uma escada, coloca a escada a disposição de todos os seus vizinhos, quem tem um carro de mão e assim por diante. 

Quem tem prataria, qualquer pessoa  que queira fazer  uma festa de casamento, de 15 anos, pode usar a prataria, até o vestido de noiva, agente viu que tem um que está sendo emprestado. Então as pessoas já se sentem “nós  temos, nós pudemos”. Então começar a incentivar na vida diária essa comunhão fraterna a partir do menor ato. Assim, duas crianças brincam o brinquedinho não é de um nem de outro, é dos dois, você já concebeu o brasileiro brincar com a bola só dele, ele sozinho com a bola? Só vai fazer embaixada, mas a bola , ela é feita pra ter pelo menos duas pessoas, então uma coisa interessante é isso, o incentivo do esporte, do trabalho em equipe, um gol não se faz sozinho, o camarada sai aqui da zaga e vai lá é artilheiro, pronto, fiz meu gol sozinho. É equipe que vai fazendo comunhão fraterna na vida, nas coisas mais corriqueiras sem muita elaboração é viver logo. 

E aí vem os outros três pontos. Os outros três pontos vão precisar de trabalho, também mais organizado, o ensinamento dos apóstolos por exemplo o que é isso? É a formação então cuidar para que haja  uma formação contínua nas comunidades, sempre estando com a orelha em pé, em relação ao que o magistério diz e a nossa CNBB produz bem, não é verdade? Produz bem, tem uma produção fantástica, tem subsídios pra tudo. Então ouvindo esses ensinamentos e já logo passando, mas sem esquecer o básico, o essencial, como nos dizia sua Santidade o Papa. Não esqueçam os documentos do Concílio Vaticano II, sem esquecer a Bíblia e pelo menos o documento do Concílio, mas com tudo aquilo que a CNBB vai soltando sempre. Essa formação, ela deve acontecer na comunidade por pessoas treinadas da comunidade e no nível mais amplo quando agente junta os líderes. Aí você pode perguntar, mas essas pessoas tem condições? Depende do passo que você está dando, aquilo que é mais simples você consegue fazendo, por exemplo: um casal que continua casado na Igreja, depois de 30 anos de casamento, tem ou não tem condições de conversar com quem quer casar, para dizer um pouquinho como ele se deve preparar para o casamento, que vocês acham? Eles estão casados há 30 anos ou mais e ainda estão casados e são fiéis a Igreja e já são humildes para declarar seus erros e pedir perdão mutuamente, conseguem. Então quando chega o que está sendo preparado para o casamento, o padre já não precisa dizer mais nada, até hoje não precisei acrescentar nada. 

A própria catequese, o quero batizar uma criança, começar a viver na comunidade, começa a freqüentar, ele vai freqüentando, o ensino, a oração e vai freqüentando e vai se formando, vai se formando, então os passos vão se dando devagarinho, quem já sabe algum pouquinho vai passando, depois os outros virão acrescentando até que a comunidade vá se considerando um pouco formada. Outra coisa importante é a fração do pão, então, que a comunidade possa celebrar, aprenda a celebrar junto, ela mesma uma vez por semana, o padre vai um vez por mês celebrar a Missa, mas nas outras semanas a comunidade mesma começa a celebrar e finalmente, tem um dia para oração que deve ser aberto a todas as espiritualidades, agente começa com a espiritualidade da renovação, dos carismas, da renovação carismática, um grupo de oração mas tem espiritualidade Mariana, que entre nós, como é difundida; existe a Legião de Maria, existe Filhos de Maria, existe os Marianos, congregados Marianos e por aí vai... Equipe Nossa Senhora, então agente tem espiritualidade Mariana, Vicentina e outras, Franciscanas, então a maneira de rezar a comunidade decide. Não se pensa muito assim numa estrutura igual para todas elas, ah tem que ter um presidente, tem que ter alguém, esse alguém a comunidade vai ver quem é e que nome ele vai ter, nuns é presidente, em outros coordenador, noutro é representante, eles se organizam de forma diferente mas, contanto que seja eficiente, que a coisa possa acontecer e aí levando em conta esses quatro pontos. O que é que agente vai observar? Falta alguma coisa. O que é que agente pode utilizar e que a CNBB já apoia dessa mudança de hoje, desse mundo moderno? São muitas coisas que podemos utilizar, muitas, mas eu queria citar pelo menos duas: Uma é o trabalho em rede.   
                                   
 Agente cada vez mais está vendo por aí, as redes de farmácias, rede de televisão, rede de rádio; a rede facilita o funcionamento, por quê? Porque a rede conserva as características individuais mas incentiva aquilo que é geral e importante na comunhão. Então, se essas comunidades trabalham em rede, então elas vão estar interligadas, não só no sistema antigo, que havia no sistema paroquial, a matriz e as capelas, então era desse jeito a matriz ali e um caminho só da matriz até a capela que estava ali, mas dali para cá não tem caminho, na rede não. Na rede, cada comunidade pode fazer um trabalho com outra comunidade diferente daquela mesma rede, se associam, fazem trabalho juntos, criam sem precisar passar pelo controle da matriz, explícito. Os fundamentos são dados na formação, decisões comuns num conselho amplo que não precisa ser todo mês, mas comunidades vão tendo vida e o que é que vai acontecer com isso? Vão aparecer ministérios e carismas aparecem de fato. É impressionante, no sistema paroquial, eu já lutei muito para conseguir determinados ministérios, acho que essa é a luta de todo padre, nem sempre a gente consegue, mas como isso brota quando se trabalha em rede, os ministérios aparecem naturalmente e a gente tem que respeitar, deixar que eles cresçam, mas é importantíssimo acompanhar, a medida que o ministério vai se formando, aparecendo e vem pela necessidade é claro. Então é mais necessária a presença daquele que vai acompanhar, para ver como está acontecendo, não é para impedir, nem para restringir, é simplesmente acompanhar, orientar, seguindo aquele conselho de Paulo que diz: “Não extingais o Espírito de Deus, provai tudo, veja tudo, escolha aquilo que é bom”. Então a gente vai incentivar aquilo que está tendo resposta, está dando certo e conversar talvez, até desestimular uma outra coisa que não pareça estar dando certo, mas, só pela conscientização, então as pessoas que vão entrando na caminhada, já vão percebendo, se sentem mais a vontade, não se sentem vigiadas, se sentem mais autoras do processo.

 A mesma coisa vai acontecer com os carismas que, quando aparecem sempre há uma incerteza, sempre há um jeito de ser, sempre querem uma comprovação, um apoio, uma autenticação, então aí mais ainda, tem que estar presente, aquele que acompanha, também do mesmo jeito acompanhar mesmo que não pareça aquele carisma não pareça tão útil, mas você não proíbe, calma, não divulga, mas vamos deixar aquilo ir acontecendo, quem sabe na comunidade, aquilo que é útil, vamos ouvindo, percebendo, acompanhando, então ministérios e carismas proliferam  na comunidade, quando a gente vai trabalhando em rede. 

A segunda coisa desse planejamento moderno que a gente tem hoje é a franquia, como é que agente pode trabalhar em franquia com a Igreja? Vamos alugar a capela? Não, não é assim, é o espírito da franquia, o que é a franquia? Na realidade alguém tem aquela marca, aquela maneira de fazer, a identificação, símbolos etc. e alguém compra aquela franquia, lá economicamente e juridicamente aquele grupo, ele pode auferir todos os lucros, que aquele comércio der, só que ele tem  que conservar o que é exigido pela identidade da franquia, por exemplo: a  Mc Donald’s, então aquela roupa vermelha, o nome dos sanduíches, tudo isso tem que aparecer, a maneira de tratar as pessoas, isso no comércio, como é que eu posso utilizar isso na pastoral? Como por exemplo: A catequese,  o nosso nordeste o nosso Brasil sobretudo o norte é cheio de criança, não é como a Europa que só tem idosos, as pessoas não querem ter mais filhos, adiam muito o casamento, mas o nosso país ainda tem  muitos filhos, o sul, o norte, o nordeste, o leste também, nas grandes cidades é que diminuem um pouco. 

Então catequese é algo essencial, como fazer a catequese? Você tem que ter um pacotezinho que mostra os símbolos e as características da franquia você tem que passar este ensinamento, tem que ter esse objetivo, quais são os objetivos essenciais em uma catequese? Levar o catequizando a ser um com a comunidade, entrar em comunhão não é isso?  Ele para entrar em comunhão, tem uma porção de pré-requisitos que ele tem que ir passando e crescendo, então esses pontos colocados. Agora quem vai dar, quando vai dar, onde vai dar, como vai dar? Aquele que comprar a franquia é que vai pensar. Rapaz, eu posso chamar você, você quer ser catequista?

-      Quero. 

Pronto, faça seu grupo e escolha quem  vai e agora você vai levar esse pacotezinho.

A hora da catequese é ela que decide, o local, se não estiver chovendo até debaixo de uma árvore, numa praça, numa garagem, na  casa da família e aí por diante, se pode fazer isso acontecer. Agente tem um trabalho lá, não começamos ainda isso em plenitude, o professor Sebastião, nos ajuda um pouco, mas é só uma concepção que agente pode fazer acontecer, é dizer o que é uma franquia. Então você vai trabalhar levando aquilo, é apenas a linguagem moderna que tem acontecido, porque se alguma loja do Mc Donald’s  falir, ela quebra sozinha, ela não quebra a empresa toda, ela quebra sozinha. Então se por acaso faltar gente fecha ali, mas no resto está acontecendo. Isso porque eu quis citar só duas coisas: Rede e franquia, que achei essenciais, mas se você começar a prescutar na linha por exemplo, das ajudas didáticas, na linha da  comunicação, dos meios, na linha da arte, quanta coisa agente pode ter em termo de expressão de linguagem e de metodologias para fazer acontecer a verdade da fé. 

Então o mundo econômico descobriu antes da gente porque para eles vale mais o dinheiro, o lucro. Mas eles arranjaram um jeito de conseguir o que eles querem que é o dinheiro, nós cristãos não estamos atrás do dinheiro agente quer o quê? A salvação, a libertação, a fraternidade universal, a felicidade, a santidade. Esses são os nossos objetivos, como fazer isso acontecer? Pode ser do jeito que eles fazem, o que não é o lucro a primeira coisa, o nosso lucro é que se faça o Reino de Deus, que se estabeleça esse Reino por todas essas palavras que nós dissemos.

 E agente percebe agora, tentando comparar esse estilo pastoral com a experiência das CEBS, observou-se, vocês sabem, que nesse último encontro, alguns pensavam que ia ser o último, alguns pensavam que esse encontro que aconteceu agora ia ser o último intereclesial, mas ao contrário, não só a participação foi maior, mas como o incentivo, a animação, porque as CEBS mudaram, estão descobrindo a necessidade de ter uma espiritualidade mais forte, muitas CEBS se acabaram, justamente porque agente entrava muito no objetivo próximo, social, material e esquecia a fortificação das pessoas no espiritual, então muita gente migrou das CEBS para um partido político, por exemplo, ou de uma CEB para um empreendimento ou um clube como estes que agente tem por aí, entre civis. 

Então isso já está sendo revisto e agente percebe onde não houve a avaliação, eu também tenho ouvido de padres e de leigos esta necessidade, ao contrário, agente também percebe que naqueles grupos, aí vem a experiência da renovação carismática católica, naqueles grupos em que somente se faz oficinas de dons e oração de louvor, existe um distanciamento da realidade e depois de certo tempo um ressecamento  da fé. Agente percebe pessoas que depois de certo tempo deixa a Igreja e aí vem o Senhor no Apocalipse dizer:” Eis que faço novas todas as coisas, a terra e o céu não existem mas, o mar também”, quer dizer, Ele cria novo céu e nova terra e o mar não existe porque Ele representa o pecado, então aquela imagem do futuro maravilhoso já começou a acontecer e precisa acontecer em nós, como? Então para ter base de enfrentar um projeto desse, agente tem que se organizar espiritualmente, tem que ter uma espiritualidade profunda. 

Então eu diria pelo menos em três níveis: Você tem que ter a sua oração pessoal que tem que ser diária, você tem que ter a sua oração com um grupo em que você vive, sua família por exemplo,  ou se você mora em comunidade, a sua comunidade e você precisa ter aquela oração mais ampla comunitária. Então são 3 níveis de oração em que eu vou exercitar a minha espiritualidade, não momentos, mas a minha vida. A minha vida vai ser comprometida com aquilo o tempo todo, é uma oração constante , orai o tempo todo a todo instante. Então é uma oração constante e encarnada, encarnada sempre partindo da vida, então a oração por exemplo do celibatário vai ser diferente do homem e da mulher casados, a oração  da criança vai ser diferente da oração do adulto, mas o que se pede aqui nessa oração, é que cada pessoa seja autora, mesmo repetindo, a autoria não consiste em criar textos novos, mas consiste em assumi-los pela própria vontade do eu, aquilo que eu digo. Então que essa pessoa possa ser autora da sua oração e descobrir nessa espiritualidade que Deus está  na sua obra, Deus está na sua obra, Deus está em nós, Deus está na natureza. Ontem nós tivemos comunicação do Pe. João Pedro a respeito da estrutura Trinitária em tudo, na natureza e muito mais ainda no homem, então Deus está na sua obra, porque que para rezar agente tem que abstrair, sair da vida, não pode, a  oração é viva, é na vida que ela se processa, é na vida, é em nós, é com os irmãos, na nossa solidão e também na comunidade.

Mas a nossa espiritualidade precisa ser encarnada, outra coisa importante, ela tem que ser fundamentada no amor, na justiça e na verdade. Não precisa nem falar muito do amor, é o próprio Deus. A justiça com diversas conotações, aquilo que é justo e a verdade, afinal de contas Jesus Cristo disse que o pai da mentira é satanás e disse que Ele é a verdade, então isso são coisas básicas, o amor, a justiça, a verdade e isso a gente encontra aonde? Alimentando-se na Sagrada Escritura, na partilha fraterna, no serviço ao irmão e assim vai. Mas são esses três pontos principais da espiritualidade que poderia e que pode nos fortificar para renovar todas as coisas de uma maneira que seja prática. Então cada pastor, seja padre, seja pai de família, seja um cristão consciente, um líder, ele vai ter oportunidade de trabalhar com aquelas pessoas que Deus colocou  na vida dele e na vida de quem Deus o colocou, ele vai ter essa oportunidade, basta que se entregue nas mãos de Deus e que tenham alguma organização e depois que não trabalhe sozinho e nem deixe nenhum grupo dependente dele. Se você consegue criar ou fundar uma comunidade, ela tem que andar só, ele ajuda, acompanha, mas depois outro vai, pode ajudar e acompanhar, porque se ela não for adulta, não  crescer, ela não vai poder, vai ser só falsidade o que ela vai viver, tem que ser autêntica, tem que ser real, verdadeira. Citei apenas um exemplo que está estimulado pela CNBB no documento 61, mas que eu acredito que pode ser base de muitas outras coisas, que na Igreja agente tem: As pastorais que são a  própria ação da Igreja, a gente tem os movimentos e a gente tem os serviços e se dentro dessas três maneiras de viver a fé e de transformar o mundo, a gente deixar crescerem ministérios e carismas, dons e serviços, vocês vão ver realmente um novo céu  e uma nova terra. Eu queria pedir que a gente ficasse de pé agora um instante, porque muitas vezes a gente nem sempre compreende quando Deus fala ao coração da gente e precisa de uma certa coragem para dizer sim pra coisas que a gente não conhece ou tem medo. 

Eu queria chamar atenção da gente pra Maria, que teve a vida dela completamente reformulada por causa da palavra, mas ela não teve medo e disse sim, então com muito carinho, pedindo que ela nos ajude a realmente levar a palavra de forma prática e a poder exercer esse pastoreio mesmo sem sermos grandes na hierarquia, o menorzinho dos batizados, pode exercer de certa forma estimular, cutucar, transformar então, vamos pedir aquela serva do Senhor que esteja presente entre nós e rezemos: “ Ave Maria cheia de graça o Senhor é convosco, bendita sois vós entre as mulheres e bendito é o fruto do vosso ventre Jesus. Santa Maria de Deus, rogai por nós pecadores, agora e na hora de nossa morte. Amém. Paz para todos!

Perguntas:

Quando o Senhor falou sobre o batismo, o Senhor quis dizer que não há necessidade de um curso, que a própria vivência na comunidade já é uma preparação?

Nem sim nem não, as vezes há necessidade de um curso, depende da caminhada da comunidade, depende da pessoa. O que não da muito certo é aquele cursos já preparado estanque que é apresentado da mesma maneira para todo mundo, ele não tem muitos frutos. Mas quando a pessoa vai entrando na comunidade, quando digo comunidade é aquela comunidade pequena de 15, 20 famílias no máximo e que estão ali presentes sempre, então aquele vizinho chega e começa participando então ele já vai aprender a vida da comunidade, ele aprende a partilha, ele aprende a necessidade de estar a disposição nos serviços, ele está ouvindo os ensinamentos, ele aprende os cânticos e nos cânticos também se passam ensinamentos, se passa teologia, ele aprende a ler a Bíblia, sabe o que é um capítulo, um versículo, ele vai aprendendo devagarinho, então aí se faz a avaliação, é alguém da comunidade que vai conversar com essa pessoa para vê o que falta, se houver necessidade então se tem uma conversa onde se coloca aquilo que ele não aprendeu ainda, mas é claro sempre há alguma coisa na linha do batismo por exemplo, sempre há alguma coisa a acrescentar, eu não encontrei nada na linha do casamento.

A próxima pergunta o senhor já respondeu mais se o senhor quiser acrescentar algo mais, para catequista de uma comunidade existe algum tipo de treinamento, se há, qual seria esse tempo?

O tempo é que eu não sei, depende da pessoa e existe um treinamento básico e que pode ser feito de duas maneiras: um tipo é  aquela pessoa na sua vizinhança, quer preparar as crianças. Então aquela catequista ela vai se preparar para dar esta catequese em dois, três anos mais ou menos, não é uma coisa assim rápida é uma coisa de vida e a vida vai devagar.

Uma segunda maneira é a mãe ou pai da família que quer passar para os seus filhos. As duas coisas pode acontecer juntas. Então nós temos um irmão lá ex-capuchinho que se dedicou a isso, então ele traz perguntas fundamentais por exemplo, para serem colocadas no café da manhã, então no café da manhã criar o hábito dos pais de com os filhos de dizerem olha filho esse cuscuz quem deu? Esse leite de onde vem? E a partir  do que está em cima da mesa ter uma conversa com os meninos a respeito da prodigalidade de Deus, a respeito da providência divina, do poder de Deus. Mas os pais então é que são preparados, muito simples, não é uma coisa complicada, muito simples, um pequeno roteiro, agente conversa, também não são muitos pais que aparecem, este tipo de catequese não é muito desejada nem querida, ela vai acontecendo devagarinho, bom, um outro exemplo seria ao acordar, então agente fazer com que cada mãe e cada pai deixe de acordar seu filho com grito, acorda com beijo, acorda  com carinho, acorda com uma palavra  baixinha no ouvido dele: filhinho, hora do colégio, depois você tira o lençol, desliga o ventilador, uma coisa assim, mas que não grite, aquele é um momento tão precioso, o momento de acordar. Então o pai e a mãe vão ser sinais de carinho. Porque eu conheço um caso de um menino que disse eu não quero, não gosto de Deus e desapareceu do catecismo, aquele catecismo normal, esse nosso é anormal, e aí a irmãzinha foi atrás e chegou: Meu filho você não veio mais, já faz quatro semanas, cinco, é não gosto de Deus não irmã, mas porque a senhora diz que Deus é pai Deus é ruim, porque pai bebe, dá na mãe, trata agente mal, não, não gosto de Deus. Então é tão fácil para quem tem um bom pai dizer que Deus é pai, mas pra quem tem um mal pai. Você tem que saber o que vai dizer, para quem você vai dizer e como você vai dizer, não é só pegar o curso e passar, tem que levar em conta quem está ouvindo.


Padre Paulo, como na área da educação conseguir atingir o jovem, que vive numa sociedade consumista e mediatista?

É uma pergunta que eu também estou fazendo, principalmente porque tem alguns da família que estão comigo, eu tenho um afilhado e um sobrinho que moram comigo e eu estou tentando, é um trabalho do dia a dia, sobretudo a maior dificuldade que eu acho, eu não vou dar resposta a isso é claro, gostaria de tê-las, mas posso apontar algumas dificuldades que é na idéia do consumismo: O interesse muito grande do jovem por ter logo as coisas sem o trabalho, quer dizer, de maneira fácil e depois a droga não é? Os shows, saem e voltam de madrugada, o ‘ficar’, o comportamento sexual assim sem responsabilidade. Então essas coisas, gente... eu acho importante insistir, mas não insistir vamos dizer de forma autoritária, insistir apresentando os valores, mostrando as conseqüências porque eles são capazes de raciocinar sobretudo depois que esse pessoal todo está entrando aí na Internet, eles sabem raciocinar muito bem, depois do vídeo jogo, criaram o vídeo jogo, pronto. Eles sabem mexer com aqueles botões muito melhor do que agente, então eles sabem raciocinar, então apresenta pra eles. Tem alguns resultados bons, outros teimosos que se arrastam, se arrastam, é uma dificuldade que eu também tenho, é um problema que agente tem que pensar mais, estudar mais.

Como mudar a metodologia da Igreja se tudo depende da hierarquia que não aceita mudanças?

Olhe, se agente examinar direitinho o que a CNBB já escreveu, o que tem lá já dá. É porque agente não estuda e agente se apega a costumes, mas se agente estudar mesmo o que está escrito nos documentos, gente, dá muita coisa pra gente fazer, já está mudado, depende só da gente de seguir, é que agente está com os olhos no passado, agente se escora muito em certos ensinamentos ou outros programas religiosos, que eu acho até que são religiosos demais, o cristianismo se agente for definir direitinho, a definição de religião não caberia, aquela que está no dicionário, conjunto de ritos, aquela definição do dicionário não bate muito bem com o cristianismo, então eu acredito que só depende da gente agora, já está tudo planejado.

O marketing na Igreja, que função tem? A palavra, o ambiente, a acolhida pode tornar mais agradável a evangelização e vida da Igreja?

 É, depende de como se veja o marketing, eu acho que do mesmo jeito que agente pôde usar os conceitos de rede, de franquia que são da ciência do mercado não é, também podemos usar a ciência, o que ela ensina, o que a ciência do mercado ensina para atingir os objetivos que lógico, não são os mesmos do mercado, o lucro, eu acho que pode ajudar muito agora é preciso que agente estude, que faça grupo, leia, comece a experimentar, proponha e aí agente vai ver a coisa acontecer, tem que ter, agora sabendo fazer.

Quando se fala em marketing temos que evangelizar como se estivéssemos vendendo um bom produto?

 É, infelizmente de mercado é exatamente isso, realmente nós temos o melhor produto. Quem é que oferece a vida eterna, a salvação, o fim de todos os males. Então se você apresenta como uma conscientização do objetivo de Deus ao nos criar, e é tudo isso, agente vai conseguir fazer agora se você ainda fica apegado nas palavras que podem restringir, o ‘vender’ por exemplo, por que tem que pedir alguma coisa em troca. Então agente tem que usar a metodologia e sabendo fazer a transposição ou a transferência como Jaelson gosta muito de dizer.

Como faço, para um trabalho com os enfermos, quando neste trabalho muitas vezes não se consegue um padre para atender um desejo espiritual do enfermo?

O ideal seria se você conseguisse, mas se você não consegue se lembre que Deus é misericordioso e bom e que tudo começou com aquela palavra faça-se. Daí veio tudo, veio o homem e a mulher veio a benção, Abraão, então acredito que se você fizer a sua parte Deus está presente.

 Naquele momento da morte, naquele momento da vizinhança do chegar da morte. Deus não vai abandonar ninguém não, seja só instrumento, ouça, esteja presente, conforte, leve mensagem de esperança, peça que a pessoa peça perdão a Deus pelo mal que fez, mas não olhe Deus como aquele que vem pra condenar, mas ainda há uma chance de dizer: Senhor me salva, me perdoa. E a história do perdão que normalmente quando os doentes pedem geralmente é para se confessar antes de morrer pra não ir com o pecado, mais quando agente vê a história do perdão na Igreja, no começo ele não era exclusivo do ato particular de confessar, no começo toda confissão, todo perdão era dado comunitariamente, só depois quando começaram os primeiros ermitãs, aqui tem  um monge não é?, começou inclusive com as mulheres, então se começou  dando aqueles ermitãs que eram procurados ordenando-os para que pudessem também dar o perdão sacramental, porque eram procurados e procuradas para receber conselhos e numa oportunidade ótima de também ter a reconciliação então a história da Igreja foi absorvendo depois a confissão particular, mas o próprio ato Concílio de Trento não é nem pra dizer que é o Vaticano II, mas o Concílio de Trento vai dizer que a Eucaristia perdoa nossos crimes, a Eucaristia perdoa. 

No rito de São Tiago, então há uma alegria, uma louvação e depois ele reza: Senhor tem piedade de nós. depois pensando também no resto da comunidade, então a história da penitência, da confissão, da reconciliação na Igreja ela é muito ampla, isso somente pra dizer, não é que você desobedeça as normas atuais, não é isso, mas simplesmente pra dizer não fiquemos com escrúpulos, se não é possível de jeito nenhum encontrar o padre vá lá conforte a pessoa, faça com que ela peça perdão e na fé, o que é que se pede com fé que não consegue? Jesus Cristo disse: o Pai não dará o Espírito Santo ao seu filho que pede com fé.

Bom, claro que não respondi tudo como devia, mas de qualquer modo agradeço as intervenções. Amém!


Nós queremos agradecer ao Pe. Paulo, as suas palavras sábias, nos recordando nossa missão de batizados, de seguidores de Cristo, que somos Igreja. Igreja que acolhe, que forma, que ora e que trabalha, permitindo assim, colaborando com Deus na sua ação de fazer nova todas as coisas.
Muito Obrigada Padre.

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