“Eis que faço novas todas as coisas”
Fundamentação Bíblica do Tema.
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Bispo Auxiliar de Salvador
Antes de tudo, eu quero registrar a minha alegria de poder estar aqui
com vocês, para um tempo de reflexão que certamente é muito gostoso, porque é a
gente de novo, indo à fonte que é a palavra de Deus. A fonte que tudo inspira,
a fonte que tudo sustenta neste caminho nosso; a história rumo à casa do Pai.
Nesta alegria registrar também a minha comunhão, com este caminho que se
procura fazer com seriedade em razão de uma amizade muito querida minha, com o
Padre João Pedro, que tive a alegria de ter tido como meu diretor espiritual,
quando lá em Roma morava no Pio brasileiro, no tempo de estudos. Posso dizer
que o seu jeito acolhedor, fraterno, que até mais que Jesuíta parece
Franciscano. Embora tenha um jeito Jesuíta na procura das coisas, no esforço de
fazê-las bem, com um jeito Franciscano de ser fraterno, isto é bom é boa síntese.
Isso certamente, é a riqueza do Padre João Pedro, que me convidou para
refletirmos esse texto do livro do Apocalipse de São João 21,5 com uma
fundamentação Bíblica, do que este Congresso se propõe aprofundar,
diante do desafio grande e importante que o Movimento Carismático de Assis se
põe. Eu quero antes de aprofundar Biblicamente no tema, eu quero colocar três
pressupostos; O primeiro e o segundo são mais sintéticos. O segundo um
pouquinho mais desenvolvido, mais também rápido para que possamos ir ao texto
“Eis que faço novas todas as coisas.”
O primeiro pressuposto é lendo os objetivos do
Movimento Carismático de Assis; o objetivo que se refere à Sagrada Escritura,
dizendo: sempre encontramos referência bíblicas nos conteúdos indicados por
mensagens, locuções e visões. Este fato é importante por que permite
fundamentar na Sagrada Escritura os carismas que se apresentam para o
discernimento. Para o carismático e os divulgadores de mensagens é importante a
fundamentação Bíblica de tais coisas. O mais importante, porém, é viver a
palavra de Deus amando-a e pondo-a em prática. Muitos são os apelos para que a
palavra de Deus seja valorizada em nossa vida e celebrada também com uma festa
toda especial. É a palavra da vida e a palavra que é luz, é a palavra que se
cumpre. Por isso, deve ser acreditada por todos. E aí um pequeno trecho de uma
pequena locução, “Filha, escreve: amai as palavras do Senhor, estudai-as,
imprimi-as bem no coração e na mente. Aderi a elas não por uma hora, mais para
sempre. Colocai ordem moral em vossos ambientes onde viveis, porque será pedido
a quem podia com sua autoridade introduzir-me e não o fez no meio familiar, na
comunidade ou na Hierarquia”. Portanto, acentuando a importância de neste
caminho olharmos a palavra de Deus.
A segunda questão
que coloco introdutória é uma palavra do Papa João Paulo II na audiência geral
de 24 de junho de 1992, quando ele assim diz: “O desenvolvimento do coração
Eclesial não depende unicamente da instituição dos ministérios e dos
sacramentos. Mas é promovido também, por inesperados e livres dons do Espírito
que opera também mais além de todos os canais estabelecidos.”
E a terceira
questão: é olhando mais globalmente o que nós estamos vivendo como Igreja e
como mundo. Num momento de passagem e de profundas transformações, é a questão
da fé. A questão séria e importante da fé. Estamos num momento em que a
Teologia enquanto ciência, a evangelização enquanto caminho, que se faz e a
vida pessoal de cada um de nós, o desafio de repensar a fé; repensar a fé, não
apenas enquanto discutimos a teoria da fé. A teoria da fé naturalmente, que
precisa ser aprofundada, aprendida, precisa ser sabida, mas, sobretudo a
dimensão da fé enquanto colocada para nós como o caminho que se faz na direção
do principio que é Deus. Quando digo isto, estou querendo dizer, que podemos
correr o risco e este certamente é um grande desafio do nosso tempo, de dar ou
de considerar o fundamento da fé, o alicerce da fé por descontado. Quero dizer,
portanto, o caminho que fazemos, os projetos que realizamos, as considerações
que nós temos sobre o mundo e sobre a vida, já dão por descontado o fundamento
da fé. E aí, o risco grande de perdas sérias na Teologia, na evangelização e na
vida pessoal da inspiração permanente, porque se perde a dinâmica de se fazer o
trajeto de sempre voltar à fonte e nela beber. Talvez com isso quero dizer, por
isso mesmo, se perde tanto da força interior, da experiência, da escuta
profunda de Deus que nos interpela. Digo este pressuposto, para dizer que
estamos num momento em que o discernimento, a abertura de coração e a escuta de
Deus, pede de nós enquanto povo, enquanto cada filho e cada filha, enquanto
estudiosos, Teólogos, enquanto pastores e evangelizadores, o esforço sob a monção do Espírito Santo de fazermos o
caminho de ir para frente, mas de sem voltar atrás, permanentemente estar indo
ao encontro da fonte para gente se inspirar, a fim de que a gente não perca
riquezas fundamentais das interpelações que Deus está nos fazendo hoje.
Na prática, o que
quero dizer é que o esforço, a tentativa deste Congresso, compreendo como um
exercício enquanto se esclarece muita coisa pela razão, sobretudo pela fé, se
aprende a dinâmica de ir cada vez mais na fonte, ir na direção do princípio,
porque assim estaremos em contatos abertos e destinatários seremos, do que esta
fonte inesgotável tem e pode nos inspirar como direção no caminho que nós
precisamos continuar a fazer. Lembradas estas três coisas, da importância da
Sagrada Escritura, da reflexão do Papa, que portanto, mostra uma riqueza
fundamental do nosso caminho, para além dos ministérios instituídos e dos
Sacramentos. Portanto, nos pedindo uma abertura profunda de coração e esta
exigência atual de um exercício, de uma vivência da fé como dinâmica
permanentemente aprendida em que enquanto continuamos no caminho, estamos
permanentemente nos retornando e nos voltando para o princípio que é Deus, para
que ele nos inspire. Quero então, neste horizonte considerar esta palavra do
Senhor que é o tema deste Congresso.
Proclamo agora, o
texto que é o Ap. 21,5 no seu contexto:
“Vi então um novo céu e uma nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra
passaram e o mar já não existe. Vi também a cidade santa a nova Jerusalém
descendo do céu, de junto de Deus, vestida qual noiva enfeitada para o seu
esposo; então ouvi uma voz forte que saía do trono e dizia: Esta é a morada de
Deus com os homens, ele vai morar junto deles, eles serão o seu povo e o
próprio Deus com eles, será seu Deus. Ele enxugará toda lágrima de seus olhos, a
morte não existirá mais, e não haverá mais luto, nem grito, nem dor, porque as
coisas anteriores passaram. Aquele que está sentado no trono disse: Eis que
faço novas todas as coisas.” Depois Ele me disse: Escreve pois, estas palavras
são dignas de fé e verdadeiras. E ainda disse: “Está feito. Eu sou o Alfa e o
Ômega, o princípio e o fim. A quem tiver sede eu darei de graça da fonte de
água vivificante. Esta será a herança do vencedor e eu serei seu Deus e ele
será meu filho”. Palavra do Senhor. Para compreendermos melhor ao menos um pouquinho da riqueza deste
texto antes de tudo, alguns passos: Esse texto está Ap. 21, 5 . Mas, o livro do
Apocalipse são 22 capítulos, é quase pois no final do livro; por isso, quero de
uma maneira bem simples ajudar a vocês, embora vejo que não tenham o texto
Bíblico na mão, que é um pequenino pecado que nós os católicos sempre
cometemos, porque não temos o texto sempre na mão e seria muito bom para
ajudar. Mas eu vou tentar ajudar vocês, a ter uma visão do conjunto, sobretudo porque
a compreensão de um texto Bíblico, como este Ap. 21,5 não pode ser apenas tirado, como se fosse
algo independente sem ser compreendido no conjunto. Isto vale para gente
entender, para se compreender uma pessoa; ninguém consegue compreender bem uma pessoa,
se não a compreende no seu contexto, na sua história, no que está vivendo.
Pois bem, quero então falar do conjunto
do livro do Apocalipse, para chegarmos a compreender a força deste texto do Ap
21, 5. Primeiro, talvez vocês até possam anotar para depois conferir um pouco
no texto Bíblico. Logo no inicio do Ap.1,1-3, é a introdução que fala, do que é
este livro; o livro último do Novo Testamento, mas de uma força e de um
significado muito especial. Apesar do desafio que ele sempre traz, pela linguagem
que usa, pelo modo como fala. E estes três primeiros versículos,Ap.1,1-3, fala
do que se trata. É uma revelação; e uma revelação de Jesus Cristo confiada aos
seus servos, daquilo que deve acontecer em breve. É a palavra de Deus, é Deus
falando em revelação aos seus servos. E aí diz: “Bem aventurados, felizes
aqueles que lê, aqueles que escutam as palavras desta profecia”. Portanto, os
três primeiros versículos nos recordam que o Apocalipse trata-se de uma
revelação, de uma profecia de Deus que fala no mais profundo dos seus servos, e
ao dizer, aquele que lê e aqueles que escutam, recorda que se trata de algo
para uma assembléia. Quando tem alguém
que lê, como eu acabei de ler o texto de 21, 1 a 6 e vocês escutaram, é uma
assembléia que escuta e esta palavra é de alguém que escuta a palavra de Deus e
comunica a assembléia. E essa indicação imediatamente recorda que todo livro do
Apocalipse, é uma grande liturgia. Uma grande liturgia em que o povo celebra e
nós sabemos que é verdade.
O momento mais
forte para nós de experimentarmos o mistério de Deus, colocando-nos a escuta,
estabelecendo como indivíduos e como comunidade uma profunda ligação; é o
momento da celebração da Eucaristia. É, pois, uma grande celebração; é pois um
momento profundamente litúrgico que nós somos chamados a essa abertura. Deus
fala, a gente escuta e cria coragem de praticar como é a recomendação. Os
versículos 4-8 deste Evangelho, é o diálogo litúrgico da assembléia que é
convidada e até começa de uma maneira muito parecida com as nossas celebrações.
A vós, graça e paz da parte daquele que é, que era e que vem; e da parte dos
sete Espíritos que estão juntos do trono de Deus; e da parte de Jesus Cristo a
testemunha fiel, o primogênito dente os mortos, o soberano dos reis da terra. E
assim a comunidade saudada, responde também, como que abrindo o fundo do seu
coração para estar em ligação com o mistério de Deus e escutar o que Ele diz,
porque Ele sempre tem a dizer. Depois finalizando este capítulo primeiro, os
versículos de 9-20. Ë João, o irmão e companheiro de tribulação no Reino e na
constância em Jesus lá na ilha de Pátmos, tem uma visão, João tem uma visão. Aí
o Apocalipse no desenvolvimento literário, vai usar uma linguagem muito
própria, com um jeito muito próprio de falar, sobretudo carregado de
simbologias que exige de nós. Por isso, o aprofundamento para compreender o que
de fato, se quer falar em profundidade. O que Deus fala a João, o que vê, não apenas vê simplesmente; os olhos
constatam figuras, imagens, cores, mas enquanto ele experiência muito mas. Pode
ser que muitos estejam me vendo, mas não estejam acompanhando o que estou
dizendo. Eu espero que isto não esteja acontecendo. Alguém pode estar me vendo
e dizendo aquela corrente, o que tem pendurado? Aí eu logo, é a cruz. Depois
irá contar quantos botões tem no meu paletó; está me vendo, mas o interesse meu
maior é de que não simplesmente me vejam e constatem dados a meu respeito, mas
que eu possa ajudar a quem está aqui, a fazer um caminho de modo a compreender,
experimentando mais profundamente o que significa esta palavra de Deus: “Eis
que faço novas todas as coisas”.
O Ap.1,9-20 é
João, nesta linguagem simbólica, por isso muito rica, sabemos disso. Vendo o
mistério profundo de Deus, com esses olhos novos, vendo a história. Tudo isso,
na riqueza de uma simbologia muito grande. Alguém poderia fazer um grande
discurso sobre o querer bem a outra pessoa e pode resumir dizendo: Você é uma
flor. E aí a gente pode destrinchar esta expressão na simbologia do que ela
significa em riquezas imensas, para explicitar o querer bem de alguém, em
relação ao outro. João vê, e sua visão engloba a partir do Ap.1-22. Portanto,
estamos olhando no Ap.1, a experiência de ver em profundidade lá dentro do
coração de Deus, de um Deus que nos fala e que a partir desta visão, com olhos
diferentes nós olhamos a história também. Para isto, a lembrança que fiz agora
a pouco do contexto litúrgico, mostra-nos que para isto é preciso, estar com o
coração aberto, exercitar-se numa profunda sintonia com o coração de Deus pela
ação do Espírito Santo. E agora, tendo portanto esta visão eu congrego em três
blocos o resto do livro: O capítulo primeiro que nos situa como se nos chamasse
para um lugar alto e nos mostrasse um grande horizonte, e neste horizonte, três
blocos que vão nos ajudar a compreender o livro do Apocalipse.
O primeiro bloco do Ap. 2-3;
nestes capítulos 2 e 3 nós encontramos sete cartas escritas às sete igrejas.
Uma riqueza imensa, porque as cartas são muito bem organizadas do mesmo jeito
do principio ao final. O que muda é a realidade de cada Igreja e o que Deus tem
a falar para cada Igreja. É quando a gente lê, como nós já lemos algumas vezes
no Ap. 2-3, compreendemos que este bloco tem um grande objetivo: Deus convida
às Igrejas todas, a uma experiência de
purificação. È preciso se purificar. Por isso, quando Deus fala, Ele aponta na
vida de cada Igreja o que vale para cada
membro, lá na sua interioridade o que é preciso ser repassado e transformado. E esse bloco do Ap.
2-3, nas sete cartas, nas sete Igrejas
do bloco penitencial. A Igreja que escutando a Deus, toma consciência de
si, descobre e aceita as suas faltas e muitas delas vão e quase concretamente
na direção do existencial.
O terceiro pressuposto recordo agora, de que
falei neste momento da história, que é a fé, a fé não apenas enquanto vamos caminhando e fazendo
muitas coisas em nome da fé, mas a fé como experiência que nos faz voltar à
fonte para beber. Certamente neste momento é uma recomendação de Deus, de que a
nossa Igreja, nós precisamos nos revitalizar na fé, não apenas enquanto nós só
aprendemos conteúdos que são importantes e necessários, mas sobretudo enquanto
nós nos exercitamos no ato humilde, confiante e simples de sempre nos
referirmos a Deus, como única referencia
insubstituível. E a Igreja então é
chamada a se purificar, a tomar consciência, quem sou? Será que estou de fato
no caminho certo? Será que não estou vivendo uma vida meio indiferente? Será
que não preciso reassumir compromissos fundamentais, deixados de lado? E assim
quando a gente vai repassando carta por carta, vamos descobrindo a riqueza do
caminho que a Igreja que se abre à palavra de Deus, toma consciência de si, e
se purifica. Tudo isso por quê? Porque uma Igreja que não toma consciência de
si, e que não purifica-se, que não faz um caminho penitencial, não consegue.
E o Apocalipse vai mostrar, como viver
um caminho de um autêntico discernimento.
A Igreja, se purifica para discernir a
sua hora. Discernir a sua hora em função de quê? Para quando? E aí, vem os outros dois blocos: O primeiro que quero
focalizar é o que vem na ordem dos capítulos: É o bloco que inclui Ap. 4-11.
Nestes capítulos, a descrição de tudo é na esfera celeste, é na transcendência,
é a especialidade do olhar do coração e da fé,
para o mistério de Deus. É o apontar o rumo de como é que
agente vê, o invisível e para dizer que nós, olhando para nós Ap. 2,3 e
nos purificando, é para agente poder ver aquilo que não se vê. Isto é a fé . Fé
é a gente poder ver, o que não se vê. Isto é a fé. É a gente pode
possuir já, o que ainda não chegou. E
então, a descrição Ap. 4-11 de uma maneira simbólica, uma linguagem que as vezes nos dificulta a
compreender do que estamos falando.
Alguns até pensam, que estão falando de
uma coisa que não tem nada a ver, mas fala do Pai que sempre aparece sentado no trono, descreve o trono de uma
maneira belíssima. Não vou passar esses detalhes, porque o tempo é curto mas,
descreve Deus Pai o todo poderoso, o que sabe tudo, aquele que comanda a
história, que é o mesmo que Ap. 21, está sentado no trono e que diz: “Eis que faço novas, todas as coisas.” Fala
dele este todo poderoso, que é o Pai do
Filho que por obediência a Ele se torna o cordeiro imolado e aparece o cordeiro
imolado, uma figura belíssima e aí, se constrói uma compreensão de Cristo o
Filho de Deus.
O
Cordeiro Imolado, é uma construção tão bonita que os estudiosos chegam a
dizer que o estudo sobre Cristo, que é a “Cristologia” do livro do Apocalipse é certamente a mais
rica do Novo Testamento todo, mais rica
até do que a Cristologia dos quatro
Evangelhos, dita e explicitada na beleza da linguagem simbólica e ação
do Espírito Santo. Tudo se dá na transcendência e é exatamente o grande segredo
do nosso caminho, estamos aqui, com o pé no chão, caminhando nessa história,
mas com o desafio de estar com os olhos
da fé, conseguindo ver o coração de Deus, o que é invisível. E de fato,
a purificação, a experiência penitencial da gente se torna completamente diferente,
porque eu olho para mim, com a luz como esta me focalizando aqui. Que é
a luz da visão que eu tenho do
mistério escondido de Deus. E aí eu vou
ver coisas, que eu não posso ver apenas
com o meu esforço penitencial. Olhando para mim, olhando para a
história, mas eu vou poder ver detalhes com os meus olhos, com os olhos da
minha fé, mas com a força que vem da luz, em razão do percurso que eu faço por
dentro do mistério de Deus. E que aí, qualifica o meu olhar de fé e me faz ver
em mim mesmo, detalhes na história e no
rumo da vida, detalhes e indicações que por mim mesmo jamais, mas pela luz que
vem de Deus é possível.
O bloco terceiro: que é aonde está este
texto: “Eis que faço novas todas as coisas.” È o bloco que começa do Ap.12-22,5
porque 22,6 até o final é como no início, o diálogo que encerra a celebração litúrgica experiencial de um povo a caminho, a procura
do rosto de Deus. É nesse bloco terceiro e último do Ap.12-22, também
simbolicamente com muitos detalhes, vou
lembrar agora mesmo, de um que agente já
conhece, mostra a história. Esta história que estamos dentro dela, a vida concreta,
os rumos às vezes meios loucos
que as coisas tomam, tanta coisas que acontecem e que nos deixam perplexos
sem compreender. Nós conhecemos o texto de abertura deste bloco, porque lemos em algumas festas de Nossa Senhora, sobretudo em Nossa Senhora Aparecida, que é o texto
do Ap.12, quando fala da Mulher vestida
de sol, tendo uma coroa de 12 estrelas na cabeça e a lua aos pés, a figura do
dragão, a perseguição, o nascimento do Filho da Mulher, que estava grávida e
que veio para reger com o cetro de ferro a história. E depois o Ap.13, para
dizer de maneira simbólica da dinâmica do mal, que toma conta, que vai tomando
conta mas da vitória, que está garantida pela força desta ação de Deus.
Nos
recorda, que nós todos Igrejas que se purifica, Ap. 2-3, é uma Igreja, Nós
todos estamos passando e sofrendo esse rolo compressor da história, com
dificuldades, com sofrimentos, com coisas terríveis e se vocês lêm agora com
seus olhos, vão constatar na descrição, coisas que agente diz: simbolicamente
está dizendo daquilo que agente ouve, como notícias na nossa história neste
momento. Eu volto um pouquinho lá no contexto do bloco Ap.4-11, que é a esfera
celeste, enquanto esta de Ap.12-22 é a esfera da história, lá naquela esfera
para a gente compreender melhor esta
articulação em que o livro se organiza. Ha um momento em que João, está na
visão deste Ap.1,9-20 é perguntado por um ancião: pergunta-se diante de uma multidão,
que lá está na esfera celeste, na transcendência e pergunta a ele: Quem são estes? E ele diz: Eu não sei.
Tu Senhor é quem sabes quem são estes? Aí a resposta é muito
bonita no Ap.7. “Estes vestidos de branco, com palmas na mão, portanto,
dois símbolos: o branco que significa a transcendência, a palma significa
vitória, esta multidão vestida de branco, com palma nas mãos, são aqueles que
passaram pela grande tribulação lavaram e alvejaram as suas vestes no sangue do
Cordeiro”. Essa expressão é muito bonita, é uma síntese profunda para dizer a
Igreja: “nós todos no caminho da história temos que nos purificar aceitando,
mais de cabeça erguida, passando pela grande tribulação que é o confronto
nosso, com uma história que tem uma dinâmica profundamente marcada, por forças
contrárias e pelo mal.” Somos nós movidos pela palavra, gente que tem no olhar
uma luz diferente, porque busca já na transcendência, porque é possível pela
fé, fazendo este caminho dentro da história, para depois modificando a
história, retomando a história, dizendo para a história o que é que Deus está
nos dizendo que um dia também,
seremos vitoriosos. Vestidos de branco com palmas na mão, fazendo parte
desta grande multidão que vai se introduzir depois definitivamente no eterno de
Deus. Portanto, nós que estamos aqui, somos esta Igreja que se purifica e que
faz o caminho, nós temos que ter os olhos
pregados, voltados profundamente para o mistério de Deus. A fim da gente
poder dizer deste mistério de Deus, no coração da história. Que é o jeito como
nós podemos enfrentar o grande desafio,
desta grande tribulação e assim,
transformá-la e estabelecer definitivamente a vitória de Cristo.
E é dentro deste contexto que a gente
vai caminhando, que está neste texto do Ap. 21, fazendo este caminho portanto,
dentro da história no último bloco a que me referi 12-22. Nós somos chamados
como João a ver, Ap. 21 que começa: “ Vi então, um Céu Novo e uma Terra nova, pois o primeiro céu e
a primeira terra passaram e o mar já não existe.” Com os olhos voltados para o mistério de Deus, embora com os pés
dentro desta história e que é difícil, ele consegue perceber e dizer para essa história, a sua
verdade, o qual é o seu horizonte autêntico. “Vi também a cidade santa, a nova
Jerusalém, descendo do céu de junto de Deus, vestida qual noiva enfeitada.”
Olha, o simbolismo bonito da aliança que a história tem que fazer com o eterno
de Deus, na medida em que nós os caminheiros e os peregrinos deste absoluto,
traduzimos concretamente dizemos concretamente esse absoluto do contexto de
Deus no contexto dessa história. E aí a voz que diz: “Esta é a morada de
Deus.” Portanto, o grande compromisso de
fazer da história não o lugar da grande tribulação, mas o lugar da morada de
Deus. O que só é possível na medida em que nós conseguimos ver o invisível, do absoluto mistério de Deus. Portanto, não será possível fazer da
história, ao invés de lugar da grande tribulação, sofrimento, inveja ,
ódio, tudo isso, que a gente sabe e conhece que sofre na própria pele, apenas
com a força da lógica pessoal. Eu agora encontrei e tenho aqui na minha maleta,
o segredo para isto, quem quiser eu vendo este norral. Não, não é assim. Só
será possível fazer desta história ao invés do lugar da grande tribulação,
morada de Deus com os homens, onde eles todos serão o povo de Deus e Deus com
eles, será o seu Deus. Enxugando todas as lágrimas dos olhos, onde a morte não
mais vai existir, não terá mais luto e nem grito, nem dor, porque as coisas
anteriores passaram, só é possível na medida em que aqui dentro desta história
se dizer, se proclamar, se viver, aquilo que é o próprio de uma luz que só vem de Deus.
E aí
a promessa do Ap.21,5: “Eis que
faço nova todas as coisas”, chama-nos a
um momento de profunda esperança na força da fé. Todas as coisas, é uma
referência no contexto do livro do Apocalipse da criação. O jeito de falar
coisas, é para dizer da criação, portanto, consequentemente da nossa história.
“Todas as coisas eis que Eu faço”. A
criação é uma ação de intervenção, quando no livro do Apocalipse, o sujeito do
verbo fazer, são os homens e as mulheres somos nós, refere-se sobretudo a nossa
conduta. Estou me lembrando como exemplo no Ap.2, na carta á Igreja de Efésio.
Quando diz: recorda-te, converte-te e faça as primeiras obras, não primeiras
com sentido cronológico, do ano passado, dos outros anos mas as primeiras
como qualidade. Faça as obras primeiras,
tenha um jeito de ser e de agir de qualidade. Portanto refere-se quando somos
nós, o sujeito do verbo fazer a vossa conduta e a vossa conduta, agindo no
mundo. É verdade, agente sabe disso, existencialmente de uma maneira muito direta. Quando a gente por exemplo,
agente é bondoso com alguém, agente consegue produzir no fundo do coração de
quem é o destinatário da nossa bondade, coisas muito bonitas.
Imaginemos outras atitudes nossas, em todos os
lugares e níveis, instâncias onde freqüentamos. E quando se trata de Deus como
sujeito, desse fazer é a ação criadora e recriadora de Deus. Portanto “ Eu faço
nova todas as coisas”. É Deus dizendo do lugar do seu poder, do lugar da sua
ciência que tudo acompanha. Seria muito interessante se o tempo fosse
suficiente para agente repassar a compreensão destas riquezas, no livro do
Apocalipse. Mas fique este sentido profundo: É o Deus que é o todo poderoso,
que renova a história a criação toda pelo seu poder. E o seu poder, realizado
através de nós, na medida em que nós nos
fazemos capazes, pela abertura. E Deus dá esse dom, de nós nos purificando, sem
deixar descer o trajeto difícil e desafiador da história, mas a luz de um percurso
que nos vem, porque percorremos o fundo do coração de Deus e aqui proclamamos e
dizemos de verdade, aquilo que Deus indica e quer para fazer nova todas as
coisas. Portanto, não é um fazer nova todas as coisas, como promessa na medida
em que Deus faz uma intervenção cósmica para além, de toda lógica.
Porque esse Deus nosso, que é Pai.
Escolheu fazer a intervenção maior e definitiva através da encarnação do seu
filho, da sua morte na cruz e da sua ressurreição. A compreensão no poder de
Deus na nossa lógica, jamais admitiria um tal percurso. Digo isso, porque os
Evangelhos tem testemunhos dos discípulos primeiros, que não conseguiram
compreender, que duvidaram, que não se moveram nesta garantia dada por Deus,
até pelo contrário, uns negaram, outros fugiram, muitos disseram até que só
acreditariam se colocassem o dedo no lado ferido dele. Porque a nossa lógica é
prova, não consegue fazer essa ultrapassagem e nem essa emenda que modifica a
história, com a força que vem de Deus, se não, pela força dessa experiência
profunda que podemos fazer como
dom, como carisma, como graças
dadas por Deus. E o fazer novas todas as
coisas, esse novo, essa novidade é exatamente fazer com que a história atenta,
sensível, tocada profundamente, por aquilo que agente não tira da maleta que
agente carrega, não tira do bolso que agente tem e não tira nem mesmo, só do próprio coração, mas retira do absoluto e
do mais profundo do mistério de Deus, para poder proclamar e indicar no coração
da história, dando à história a possibilidade, portanto, de ser nova. Nova não por ser uma moda nova, não simplesmente
porque é algo incomum. Mas nova, porque tenha qualidade nas feições e nas
características daquilo que é o próprio de Deus.
Portanto, grande e belíssimo é o
desafio do nosso percurso de fé. O processo
desafiador de nos purificar enquanto fazemos o caminho penitencial, por dentro da história
difícil que é, uma grande tribulação, mas com os olhos pregados no coração do
mistério amoroso de Deus. Dizendo para essa história, aquilo que lá se vê e
aquilo que Ele nos pede para aqui traduzir, em palavras e em gestos para que de
verdade, o que já é garantido seja, uma realidade. Em Deus e com Deus porque é promessa sua, todas as coisas
se farão novas. Obrigado!
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