por P. João Pedro Cornado SJ
1.
Em 2007, celebramos os quarenta anos de fundação do Movimento Carismático de
Assis e queremos marcar este acontecimento com um dia especial de encontro
entre todos os membros consagrados, amigos e simpatizantes do MC que aqui
puderam vir.
O
nosso dia iniciou com este bonito momento de oração e louvor que nos fez sentir
unidos à Trindade Santa, o nosso Deus, e agora segue com esta reflexão sobre um
tema muito importante e fundamental hoje para a nossa Igreja.
IGREJA
CARISMÁTICA E IGREJA HIERÁRQUICA
2.
Falar de Igreja Carismática e de Igreja Hierárquica pode despertar uma série de
reações imediatas, fruto de contextos eclesiais onde nós vivemos ou de
preconceitos próprios, adquiridos pela experiência de fé, vivida por cada um de
nós. Apelo, então, â sugestão de S. Inácio de Loyola no início dos seus
Exercícios Espirituais, para que o aprofundamento deste tema possa ser de proveito
para todos nós. Ele dizia que há de se pressupor que todo bom cristão deve
estar mais pronto a salvar a afirmação do próximo do que a condenar. E se não a
puder salvar, pergunte dele como a entende, o que quer dizer e, se perceber que
há algo errado, corrija-o com amor e recorra se for necessário, a todos os
meios convenientes para que, bem entendida, a afirmação do próximo possa ser
salva.
3.
E justamente queria iniciar esta minha colocação, retomando o momento em que
Franca, fundadora do MC, durante a celebração da Santa Missa na Catedral de S.
Rufino, em Assis, em agosto de 1967, sente clara em seu coração a locução do
Senhor, que bem conhecemos: "Eis, hoje se acendeu a primeira pequena
chama... da Igreja Carismática...".
Imagino
e estou vendo no rosto de vários do MC, aqui presentes, uma atitude de
surpresa. Acostumamos a dizer que naquele momento... acendeu-se a primeira
chama do Movimento Carismático, e por que hoje falo de Igreja Carismática? Foi
a mesma maravilha que eu tive quando descobri, anos atrás, este fato. Não o
comuniquei logo a vocês, porque podia suscitar mil perguntas e talvez confundir
a nossa caminhada. Mas hoje, depois de quarenta anos de história e depois que a
Hierarquia da Igreja, a começar pelo Papa, está falando abertamente de Igreja
Carismática, achei por bem partilhar com vocês esta reflexão que nos permite
entender melhor o que o Senhor espera com o nosso querido MC.
4.
Nos primeiros anos do MC, sobretudo de 1967 a 1979, a obra que Franca é chamada
a fundar é nomeada, sobretudo como Igreja Carismática. Aos poucos, porém, vai
aparecer também a referência à obra como 'Movimento Carismático de Assis' a
partir, sobretudo, da intervenção do seu Padre Espiritual, Padre Giustino, que
lhe ordenará de não usar a terminologia de Igreja Carismática, mesmo que
continuasse a aparecer nas locuções.
É
bom acompanhar estes fatos com a leitura de algumas locuções da época:
Meu Deus! Meu
Deus! Eu estou apaixonada, cheia de amor por Ti, Tu sabes sempre me conquistar
com tuas novidades. Não, a Igreja não poderá nunca sucumbir porque é de Cristo,
do meu dulcíssimo Esposo que só Ele podia idealizar a "Igreja
Carismática".
Hoje sofri
muitíssimo, como se uma lâmina me transpassasse a alma. Enquanto um de meus
diretores (espirituais) vem me visitar e me diz coisas maravilhosas a respeito
da igreja Carismática, coisas que me deveria ter dito Padre Giustino, este, ao
contrário, me diz e escreve tudo o oposto, falando até que se interessar e
pensar em uma Igreja Carismática é tudo tempo perdido. (03.10.1967)
5.
Alguns meses depois, continuando as dúvidas e perplexidades do seu Padre
Espiritual, acerca de falar e dizer que o Senhor queria que a nova associação
que estava surgindo fosse chamada de Igreja Carismática, Franca recebe esta
locução que transcreve rapidamente para enviar ao P. Giustino.
"Meus
filhos chegou a hora na qual o vosso Deus quer começar a repartir o amor.
Agradecei o
Espírito Santo, pois pela sua ação o mundo mudará a face.
Não deixarei de
vos dar graças particulares por uma sempre mais estreita cerca fiel ao Papa.
Rezai pelo Papa,
vós carismáticos sereis o seu refúgio.
Não percebeis
que seja religiosa seja politicamente quase não se respira mais?
Eu, meus filhos,
sou o vosso "Respiro".
Confiai,
defendei-me, honrai-me como também a minha Mãe.
Dizei aos Bispos
que cada um deles é pessoalmente responsável por todo o bem que, pela
obediência a eles devida, não pode ser feito.
Quando o mundo
ficar atordoado, a Igreja Carismática triunfará.
Por que vós não
quereis chamar "Igreja Carismática" a vossa associação?
Não dizeis
também Igreja Militante e assim por diante?
Coragem, então,
quando o nome ocupar o lugar certo. Alguns de vós ainda sois um pouco fracos.
Se vós não sois fortes,
corajosos, decididos, a quem mais eu me dirigirei sobre a terra?
Eu cada dia dou
testemunho de vós diante do meu Pai e vosso Deus" (15.08.68)
6.
E diante do medo do P. Espiritual de promover a Igreja Carismática e de
apresentá-la aos bispos, Franca recebe a incumbência de dizer ao seu diretor
espiritual que o Senhor tem pressa e que se ele não se mexer, o Senhor a fará
com ela. Assim acontece. P. Giustino titubeia, não sabe como fazer, ainda não
está bem convencido. Então, o Senhor faz com que Franca encontre em Assis e
outros lugares pessoas com dons particulares, que Ele coloca no caminho dela.
Aos poucos, surge uma semente de Igreja Carismática, que se reúne
periodicamente em Assis. São encontros onde se apresentam fatos novos de
pessoas carismáticas e estão presentes novos padres e professores de teologia.
Franca nem sabe o que vai dizer e fazer, mas sempre, antes da viagem, recebe as
instruções do Senhor.
Sinto
o Espírito que me diz 'Levanta-te e
escreve. Amanhã partirás para Assis onde se realizará o III encontro da Igreja
Carismática. Assim diz o Senhor e tu dirás na assembléia:
"Assim fala
o Senhor: chegou a hora de limpar a Hierarquia de minha igreja. Dividi-la-ei em
dois grupos, ou melhor, em dois cestos, como disse pela boca do profeta
Jeremias. Num dele os figos bons que são os meus prediletos que quero no
governo da minha igreja, no outro jogarei todos os .figos inúteis e podres e
que são muitos, também nos lugares altos. O cesto bom, grita-o Franca, é aquele
da "Igreja Carismática". Sim, porque todo sacerdote se tiver
praticado o bem, se tiver observado a minha lei, se houver utilizado a sua vida
por mim, deve sentir vivo o poder carismático. (02.04.68)
7.
Antes de avançar qualquer julgamento sobre a pessoa do Padre Giustino ou da
hierarquia da época é bom conhecer o contexto eclesial de então, para muito de
nós, bem distante.
Estamos
no ano de 1968, quando se manifesta no mundo inteiro uma contestação, que
encontra o seu momento mais forte na revolta dos estudantes da Universidade da
Sorbone e no assim chamado Bairro Latino de Paris e que se alastra por toda
Europa e no mundo inteiro. É uma reação clara da juventude da época diante de
um sistema político de então, dividido em dois blocos, na assim chamada 'guerra
fria', que as novas gerações não aceitam mais, sobretudo no tocante as relações
econômicas e políticas entre os povos. Está no auge, neste momento, a antiga
URSS, impregnada pela ideologia marxista, que quer exportar para o mundo
inteiro o modelo de governo comunista. É deste tempo a intervenção russa para
sufocar a 'primavera de Praga' na então Tchecoslováquia ou para apoiar outro
tipo de intervenção em que possa exercer a sua influência.
Do
outro lado, os Estados Unidos com suas teorias liberais de dominação econômica,
às custas de países pobres, as quais permitem que se mate, por motivos políticos
e interesses de parte, até o seu próprio presidente John Kennedy, o irmão dele
Robert, o pastor negro Martin Luther King, líder da luta pacifica contra a
segregação racial, ainda bem presente nos Estados Unidos e tantos outros.
O
mundo católico e a Igreja se encontram arrastados por esta situação mundial. Atordoados
inclusive pela renovação conciliar que naqueles anos tenta, com acertos e
desacertos, encontrar seu caminho (lembremos que o Concilio Vaticano II
terminou em 1965). Surgem as primeiras provocações e rupturas com a Igreja
Hierárquica, por parte de padres (muitas saídas), bispos (Lefevre) e
comunidades eclesiais (Isolotto em Florença - Itália), que muito irão preocupar
e farão sofrer o Papa Paulo VI. O espírito de contestação da época tinha entrado
também na Igreja, virando mais um modismo do que uma preocupação de apontar e
corrigir defeitos para uma conversão e reforma de vida.
O
Papa Paulo VI afirmará (em 1968) que "A
mais bonita experiência, que a vida humana pode oferecer, a mais alegre, a mais
cheia de promessas é justamente a experiência do Espírito de Deus".
Contudo, falando dos carismas que estão a serviço da unidade do corpo, o Papa
adverte que eles não devem gerar fraturas ou oposição, mas devem servir para a
unidade, para oferecer à comunidade cristã as condições essenciais para
anunciar e testemunhar o Senhor e o seu evangelho.
‘Nós nos limitamos
a negar a distinção substancial. entre Igreja institucional e uma presumida
Igreja puramente carismática... uma Igreja concebida segundo o próprio gosto
espiritual subjetivo. Igreja do povo guiado pelo Espírito Santo, distinta ou
contraposta à Igreja de Jesus Cristo... Esta contra posição traz principalmente
duas conseqüências negativas: a desobediência e um pluralismo que vai além de
seus legítimos limites'. (29.08.73)
O Papa Paulo VI não aceita esta contraposição,
mas sabe muito bem que a Igreja de Jesus Cristo se fundamenta nos Apóstolos e
nos Profetas (Cf. Ef2,20)
8.
Entende-se, então, porque o Padre espiritual de Franca fica com receio que,
neste contexto, se fale de Igreja Carismática, mas não pode impedir que
apareçam outras locuções neste sentido e que Franca registra pontualmente no
seu diário.
"A Igreja
Carismática é como a aurora do dia. Nem todos a percebem, mas irá crescendo. A
Igreja Carismática é já o começo da era nova. Desejaria que o gritásseis sobre
os telhados, sobre os telhados das outras Igrejas. Organizai-vos
carismaticamente, assim como Eu dito ao vosso coração". (12.05.69) "Quando a Igreja Hierárquica se unir à
Carismática, só então satanás perceberá a sua destruição e diminuirá o mal por
ele provocado”. (28.10.69)
9.
Justamente no momento em que a experiência de Franca parece se tornar mais
íntima com o Senhor, o Padre Espiritual chega a ponto de ordenar à Franca de não
usar estes termos porque podem ser facilmente interpretados como contestação ou
ruptura com a Igreja institucional.
Contudo,
a profecia não pode ficar presa às circunstâncias do momento em que se dá,
aliás, ela chega justamente para denunciar algo que deve ser corrigido ou dar
sinais de esperança para o povo, anunciando pistas novas a serem seguidas. Por
isso, mesmo sofrendo e não entendendo, Franca obedece ao seu Padre Espiritual,
mas continua anotando o que o Senhor vem falando ao seu coração.
...Amo a Deus
acima de tudo, Ele é o meu maior amor, quem poderia imaginar que desta forma me
enamoraria de Ti, Senhor? Meu Deus, desde quando me disseste ser a minha
censura, sinto-me mais segura, mais feliz, sinto por dentro tanto fogo e não
posso queimar sozinha, Preciso manifestar isso (aos outros).
"Eis,
Franca, o teu Deus também, o teu Incêndio, não podia queimar sozinho.
Eis porque quis
criar as criaturas, para expandir o Fogo de Amor!".
É verdade, é
verdade, estou experimentando as mesmas coisas de Deus. Deus aumenta este Fogo,
quero ser a tua maior amante contemporânea. Quero amar-te loucamente. Se não
tivesse a família que me prende, acredito mesmo... que eu ficaria doida para te
seguir, amar perdidamente!
Mas
logo em seguida Franca escreve no seu diário:
Ordens (do Padre
Espiritual)
- Devo ser mais
esquemática no meu diário.
- Além do mais:
proibido falar em Igreja Carismática,
- proibido
distribuir mensagens,
- proibido
dizer: sou dirigida por este ou aquele.
Estou
literalmente paralisada. Sofro muitíssimo e, às vezes, pergunto-me se a minha
pode ser chamada de "vida" ou, pelo contrário, "martírio".
Padre Giustino só no céu saberá quanto e quantas vezes me amargurou. Sempre
tenho sido submetida à dura provação! (O 7.05.78)
10.
Esta atitude de desconfiança do Padre Espiritual vai durar mais de dez anos e,
no fim, ele pede a Franca para se retirar e desistir de acompanhá-la, pois não
se sente capaz de lidar bem com estas coisas. Ele reconhece a sinceridade e a
obediência de Franca, ele foi testemunha de dois milagres que vieram dar
confirmação à obra que Deus quer por meio dela. Conhece toda riqueza espiritual
e os dons que o Senhor distribui ao coração dela, mas, mesmo assim, prudência e
medo parecem falar mais alto. Além do mais, Franca já tinha encontrado,
entretanto, um apoio e urna ajuda espiritual muito grande no bispo de Spoleto,
que a acolheu na sua diocese. Contudo, mesmo provando um enorme sofrimento,
Franca sempre confiou muito no seu padre espiritual e ser-lhe-á sempre muito
agradecida, guardando para com ele urna grande e sincera amizade.
11.
O importante é saber o seguinte: o Senhor quis e apelou para Franca dar vida a
um movimento que despertasse de novo a atenção para com a Igreja Carismática, o
que de fato está acontecendo, e com alegria constatamos. Hoje, na Igreja não
somente se fala de Igreja Carismática, mas também há um desejo crescente de
unidade entre a Igreja Hierárquica e a Igreja Carismática. Alentadoras são as
palavras do Papa João Paulo lI, quando, em 1998, se encontrou em Roma com os
representantes dos maiores movimentos da Igreja de hoje. Assim ele se dirigiu
para os presentes em seu discurso (cf n. 4):
"Sempre,
quando intervém, o Espírito nos deixa maravilhados. Suscita eventos cuja
novidade causa admiração, muda radicalmente as pessoas e a história. Esta foi a
experiência inesquecível do Concílio Vaticano lI, durante o qual, sob a guia do
mesmo Espírito, a Igreja redescobriu como constitutiva de si mesma a dimensão
carismática (Cf
LG 12)...
Os aspectos
institucional e carismático são co-essenciais à constituição divina da Igreja
fundada por Jesus, porque concorrem juntos a tornar presente o mistério de
Cristo e a sua obra de salvação no mundo. “Foi esta providencial
redescoberta da dimensão carismática da Igreja que, antes e depois do Concílio,
se consolidou numa singular linha de desenvolvimento dos movimentos eclesiais e
das novas comunidades".
12.
O Papa se refere neste ponto ao documento sobre a Igreja do Concílio Vaticano
II, o qual afirma que o Espírito Santo guia e unifica a Igreja na comunhão e no
ministério, a instrui e guia por diversos dons hierárquicos e carismáticos,
e embeleza com seus frutos. (LG n.° 4). Na realidade, desde sua origem e ao longo
dos séculos a Igreja experimentou ser gerada e edificada ao mesmo tempo pelos
dons hierárquicos, que constituem sua dimensão institucional, e dons
carismáticos, que constituem justamente sua dimensão profético-carismática. Por
isso, com o Papa João Paulo II, podemos afirmar que a Igreja, sob a guia do
Espírito Santo, começa a redescobrir a dimensão carismática como
constitutiva de si mesma. Em outras palavras, a Igreja foi animada pelo
Espírito Santo a tomar uma maior e aprofundada consciência de si, de como
Cristo a quis e o Espírito Santo a edifica continuamente para poder testemunhar
ao mundo o amor de Deus para com a humanidade.
FUNDAMENTAÇÃO
BÍBLICA
13.
Espero que para todos os cristãos deste novo século falar de Igreja Carismática
e Igreja Hierárquica não incomode mais como nos anos idos. Contudo, pode surgir
outra pergunta: por que introduzir esta distinção entre Igreja Carismática e
Igreja Hierárquica? Vimos que a Igreja só pode existir perfeitamente quando
estão vivas e atuantes entre si estas duas partes constitutivas da mesma
Igreja: a hierárquica e a carismática. Ora, o Concílio Vaticano II veio como
sopro do Espírito Santo para ajudar a superar uma situação de Igreja
marcadamente hierárquica, que acabava identificando a Igreja com os seus
pastores: o Papa, os bispos e os padres. Hoje, graças a Deus e ao Concílio
Vaticano II, que Ele inspirou, esta consciência de ser Igreja está bem viva nos
mesmos pastores e nos fiéis que fazem parte deste povo de Deus.
É
preciso evitar, também, uma maneira de entender a Igreja como a soma de muitas
partes, que seriam as suas várias dimensões (bíblica, litúrgica, hierárquica,
carismática, missionária, sacramental...), assim como a de pensar a Igreja
reduzida a uma destas dimensões, sobretudo a Hierárquica.
Faz-se
necessário, então, recorrer a pontos fundamentais da Palavra de Deus que possam
nos iluminar neste momento e entender cada vez melhor a nossa Igreja, a que
Jesus quis para o seu povo,
1. Igreja,
comunidade de carismas
14.
S. Paulo enfrentava com os Coríntios a dificuldade de eles terem uma visão de
igreja muito dividida e contraposta e os ajuda a entender que a Igreja é como
um corpo, no qual cada parte tem a sua função, que só, porém, tem sentido
enquanto está unida ao corpo. O fato de destacar dons diferentes entre si não
deve ser pretexto para desentendimentos ou divisões e sim sentir que é o mesmo
Deus que realiza tudo em todos, é o Espírito Santo que distribui os seus dons a
cada um como melhor lhe aprazo (1Cor 12,
4-11) A diferença dos dons é fruto unicamente do Espírito Santo: fomos
batizados num só Espírito para formarmos um só corpo, o corpo de Cristo que é a
sua Igreja. Nós devemos ser os membros que participam deste corpo cada um no
seu lugar. (1Cor 12,12-13,27-30)
2. Igreja
Hierárquica e Igreja Carismática, constitutivas da única Igreja de Jesus Cristo
15.
Sempre S. Paulo apresenta o povo de Deus, a Igreja, como um edifício que tem
como alicerce os apóstolos (os dons hierárquicos) e os profetas (os dons
carismáticos), sendo o próprio Jesus Cristo a pedra fundamental... Estas duas
dimensões, são constitutivas da Igreja, como nos lembra S. Paulo.
"Portanto
já não sois estrangeiros e adventícios, mas concidadãos dos santos e membros da
família de Deus. Estais edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos
profetas, do qual é Cristo Jesus a pedra angular. Nele bem articulado todo o
edifício se ergue em santuário sagrado no Senhor e vós, também, nele sois
co-edificados para serdes uma habitação de Deus no Espírito". (Ef 2, 19-22)
16.
Temos também ricas imagens bíblicas que simbolizam para nós esta unidade
profunda e inseparável que deve existir entre a Igreja Hierárquica e Igreja
Carismática, entre as quais, apraz-me escolher estas que também foram
apresentadas à Franca em locução interior:
a. As duas varas
17.
"Diz aos bispos: o Movimento
Carismático de Assis deve estar unido com a Hierarquia assim como pela boca de
Ezequiel queria unidos a vara de Judá com a vara de José. Que o Papa tome ambos
nas mãos para o bem da Igreja!". (12.12.74)
O
texto a que se refere a locução é do profeta Ezequiel (37,15-22) quando diz
Recebi
de Javé a seguinte mensagem:
"Criatura humana,
pegue uma vara e escreva nela: 'Judá e os israelitas que estão com ele'.
Depois pegue
outra vara e escreva nela: 'José e os israelitas que estão com ele'. Em
seguida, junte as duas, de modo que formem uma vara só e fiquem unidas em sua
mão. Seus conterrâneos vão perguntar: 'Você não vai explicar o que significa
isso?' Então você responderá para eles: 'Assim diz o Senhor Javé: Pegarei a
vara de José com as tribos de Israel que estão com ele, e juntarei com a vara
de Judá, de modo que fiquem unidas em minha mão e formem uma vara só: Pegue na
mão as varas escritas e, diante deles, diga: Assim diz o Senhor Javé: Tirarei
os israelitas do meio das nações para onde foram levados, e os reunirei de todos
os povos, e os levarei de volta para a sua terra. Farei deles uma só nação na
terra, nos montes de Israel, e um só rei governará sobre todos eles. Não serão
mais duas nações, nem dois reinos separados ".
Fica
bem clara a alusão de que fala a locução. O Papa precisa contar com estas duas
partes essenciais à Igreja, de forma que haja uma perfeita unidade entre si e
possa, de fato, contar com a participação de ambas para o bem da Igreja. Quanto
mais presentes e compenetradas entre si, tanto mais a Igreja crescerá e poderá
realizar a sua missão.
18.
Mais adiante, Jesus explicará a Franca a íntima ligação existente entre a
Igreja Hierárquica e a Igreja Carismática: uma depende diretamente da outra.
Por isso, é a Hierarquia chamada a tomar decisões e a guiar o povo de Deus, mas
é aos profetas e carismáticos que Deus se revela, dá as luzes, as indicações
necessárias para a Igreja.
Então
a Hierarquia pode tomar decisões, mas não sabe quais são as escolhas melhores
que Deus espera dela, assim como os carismáticos e profetas tomam conhecimento
pelo Senhor dos passos a serem dados, mas eles não podem tomar decisão nenhuma,
pois compete aos pastores da Igreja discernir
os sinais dos tempos, o que os carismáticos apresentam e decidir o que é
melhor para a Igreja. Eis a locução recebida:
“... Na Bíblia
está escrito: 'O Senhor não faz nada, sem o dizer antes aos seus servos, os
profetas. Não diz: sem antes dizê-lo aos Papas, mas aos profetas, os quais têm
o dever de rezar pelos projetos do Senhor. Os profetas sabem, mas não podem
senão rezar; os Papas podem, mas se não sabem, não agem. O M C. existe
exatamente para que o Papa conheça as vozes dos meus profetas. (27.01.81)
Para a reunião
de carismáticos em oração por esta vez suspende i-a, porque Eu quero ver rezar
convosco também os bispos. Desejo ver unida em oração a igreja carismática
junto com (t hierárquica. Uma não pode agir sem a outra, partir-me-iam pelo
meio "
(01. 05. 73)
b. Os reis e os
profetas
19.
Outra imagem bíblica que pode nos ajudar a entender a intrínseca relação entre
Igreja Hierárquica e Igreja Carismática é a do rei Saul e Davi e dos profetas
Samuel, Gad, Natã, Os fatos bíblicos são conhecidos:
-
O primeiro, quando o povo pede um rei
e o profeta Samuel unge a Saul. E depois lhe passa, em nome do Senhor, as
disposições sobre o que o rei deve fazer (1 Sam 10, 9-27).
-
O segundo, quando o rei Davi mandou
fazer o recenseamento do povo, como se ele fosse o dono de Israel e, em
seguida, se arrependeu. O Senhor não falou diretamente a ele, mas enviou-lhe o
profeta Gad, "o confidente de Davi" como era conhecido, para que,
arrependido, escolhesse a punição que merecia (2 Sam. 24,11). Assim como, em
seguida, o Senhor Javé ordena a Davi, sempre por meio do profeta Gad, de
construir um altar em sua honra para acabar com a peste. (2 Sam.24,18-25).
-
O terceiro:quando o profeta Natã se
dirige a Davi, em nome do Senhor, para dizer-lhe que não será ele a construir o
templo para Javé (Sam. 7.17). E depois, será ainda o profeta encarregado pelo
Senhor de repreender severamente o rei pelos seus pecados, no caso da mulher de
Urias com a qual adulterou e mandou matar o marido dela, para em seguida a
possuir como esposa.
Esta
relação de complementaridade entre o profeta e o rei sempre estava presente na
vida do povo de Israel. O Senhor espera também que isso aconteça na sua Igreja
hoje, entre a Igreja Hierárquica e a Igreja Carismática, pois o agir de Deus é
sempre o mesmo ao longo da história da humanidade..
"Por que a
Igreja Hierárquica não se aconselha com os carismáticos, quando já no passado o
rei Davi se aconselhava com o profeta Gad e com o profeta Samuel?.. Quero que a
Igreja Hierárquica se aconselhe com a Igreja Carismática, porque eu não
mudo".
(07. 09.73)
c. Pedro e João
(Jo 20 e 21)
20.
A fundamental e intrínseca relação entre as duas dimensões é também simbolizada
pela relação, entre Pedro e João, assim corno nos é apresentada pelo evangelho
de João. Pedro é a rocha sobre a qual o Senhor edifica a sua Igreja. João,
mesmo sendo ele também apóstolo, representa a Igreja que aberta e disponível à
ação do Espírito Santo, ama fielmente e até o fim o seu Senhor.
Os
dois correm ao sepulcro para verificar o que as mulheres disseram. João corre
mais veloz e chega primeiro, não só porque é mais jovem, mas como diziam os
mestres espirituais, porque ele ama mais. Contudo, João não entra no sepulcro e
espera a chegada de Pedro para que ele entre primeiro. Como para destacar que a
dimensão carismática da Igreja abre os caminhos de Deus e antecipa o futuro
pelas profecias. Desta forma, ela prepara o caminho para que a Igreja
institucional possa chegar e desenvolver a sua missão insubstituível
d. As duas
barcas
21.
Na catedral de Trapani (cidade da
Sicília) tive uma visão de duas barcas no mar... "Estas duas barcas são a
Igreja Hierárquica e a Igreja Carismática que viajam e navegam juntas.. "(02.07.
77).
O sacerdote lia
o Evangelho de Pedro pescador de homens (Lc 5, J) "Ouviu? Havia duas
barcas e numa fui com Pedro.Quando os peixes milagrosamente pescados, foram
muitos,... foi necessária a ajuda da outra barca. São as duas barcas que te fiz
ver em visão tempo atrás (31.08.77)
Estas
duas barcas que se ajudam entre si, são mais uma alusão à Igreja Carismática e
à Igreja Hierárquica. Ambas devem sempre estar bem unidas porque precisam uma
da outra. Quem vai evangelizar no meio do povo de Deus é a Igreja como um todo,
chamada justamente a anunciar o Reino. Mas precisa da ação da Igreja
Carismática para reunir os carismáticos e confidentes que o Espírito Santo
suscita na sua Igreja, assim como é necessária a ajuda da Igreja Hierárquica
não só para ajudar a acolhê-las, mas sobretudo para discernir e selecionar o
que de fato pode servir para o bem da Igreja.
e. O esqueleto e
a carne
22.
Outra imagem bíblica sugestiva que nos oferecem as locuções de Franca é a do
esqueleto.
A
imagem de S. Paulo de que a Igreja é o Corpo de Cristo nos ajuda a melhor
entender.
O
corpo humano é formado por uma estrutura óssea (o esqueleto) e de várias partes
do organismo; de carne, que exercem as várias funções vitais, em harmonia e
complementaridade de funções. Um corpo, no qual prevalecesse um dos dois
componentes essenciais, não alcança o desejado equilíbrio.
Assim
é a Igreja. Entre o fundamento apostólico-hierárquico e o
profético-carismático, entre a hierarquia e os confidentes-carismáticos deve
existir esta complementaridade. A Igreja seria um organismo esquelético, lá
onde não houvesse acolhida aos carismas e um discernimento sério e verdadeiro
sobre eles:
"Relembra
que os verdadeiros carismáticos devem ser os primeiros conselheiros do Papa. A
Igreja Hierárquica é esquelética sem as minhas vozes que nos verdadeiros
carismáticos convergem em unidade. Reuni então os carismáticos... para estudar
e discernir os carismas. Há pessoas que tem este dom do discernimento dado por
Mim... As minhas maravilhas maravilharão o mundo e chegar-se-á à verdadeira
união dos cristãos. Por isso morri, para reunir um só rebanho com um único
pastor... "
(11.05. 71)
23.
Assim como, seria um organismo inarticulado e invertebrado uma Igreja, onde os
carismáticos quisessem fazer o seu caminho e não se preocupassem em apresentar
pacientemente os seus dons aos seus pastores para o discernimento e seu
eventual uso,
"Diz... que
os dons extraordinários que Eu te dei são como o vinho que Eu providenciei
milagrosamente em Caná... Ora, que disse no Evangelho? Levai-o ao mestre de
cerimônia... Os carismáticos que desandaram é porque não quiseram apresentar
pacientemente os seus dons à Hierarquia, ao mestre de cerimônia, mas fizeram uso
deles como quiseram" (04.01.69)
A
IGREJA DISCERNINDO OS CARISMAS
24.
Como sabemos, o Espírito Santo atua geralmente na sua Igreja por meio do
ministério dos seus pastores, sobretudo através dos sacramentos e da Palavra de
Deus. Mas concede também aos fiéis dons particulares, que ele distribui
conforme lhe apraz. Tais dons ou carismas não são para si, mas devem ser postos
a serviço da comunidade eclesial, para a sua edificação, depois de terem sido
avaliados e discernidos pela hierarquia da Igreja local. (Cf Decreto do
Concílio Vaticano 11, Apostolicam Actuositatem, n.°3)
a) Reter o que é
bom
25.
Por conseqüência, somos acostumados a dizer que cabe a Igreja Hierárquica a
tarefa do discernimento dos carismas comuns e dons especiais que eventualmente
possam aparecer no meio do Povo de Deus. Sem dúvida, não há como não reconhecer
este dever de nossa Hierarquia e evidentes são os textos bíblicos que
fundamentam isso, como nos lembra o Concílio com palavras claras:
"O juízo
acerca da autenticidade e reto uso (dos carismas) pertence àqueles que presidem
nal Igreja e aos quais compete de modo especial não extinguir o Espírito, mas
julgar tudo e conservar o que é bom de modo que todos os carismas concorram, na
sua diversidade e complementaridade, para o bem comum. (LG 12 e 30)
e
cita como fundamento desta afirmação o texto de S. Paulo
"Nós vos
rogamos, irmãos, que tenhais consideração por aqueles que se qfadigam no meio
de vós e vos são superiores e guias no Senhor....Não extinguis o Espírito; não
desprezeis as profecias. Discerni tudo e ficai com o que é bom", (1 Tes,
5,12.19-21)
O
discernimento deve ser para todo e qualquer carisma que pode surgir na
comunidade eclesial, mas, sobretudo, se faz necessário no caso de carismas ou
dons extraordinários. Este discernimento é concedido pelo mesmo Espírito Santo,
que guia a inteligência dos seus filhos pelo caminho da verdade e da sabedoria.
b. Alguns
critérios de discernimento
26.
O Papa João Paulo II, numa Audiência Geral, concedida ainda em 24 de junho de
1992 resumia para a Igreja alguns critérios de discernimento, geralmente
seguidos tanto pela autoridade eclesiástica como pelos mestres e diretores
espirituais:
a.
A conformidade com a fé da Igreja em Jesus Cristo (cf 1 Co 12,3); um dom
do Espírito Santo no pode ser contrario à fé que o mesmo Espírito inspira toda
Igreja. «Podereis conhecer nisso o espírito de Deus: todo espírito que confessa
Jesus Cristo, vindo em carne, é de Deus; e todo espírito que não confessa
Jesus, não é de Deus» (1 Jo 4, 2-3).
b.
A presença do «fruto do Espírito: amor. alegria. paz» (Gal 5, 22). Todo
dom do Espírito favorece o progresso do amor, tanto na mesma pessoa, como na
comunidade; por isso, produz alegria e paz. Se um carisma provoca turbamento e
confusão, significa que não é autêntico ou que não é utilizado de forma
correta. Como diz S. Paulo: «Deus não é um Deus de confusão, mas de paz» (lCo
14, 44). Sem a caridade, inclusive os carismas mais extraordinários carecem de
utilidade (cf. 1Co 13, 1-3; Mt 7,22-23).
c.
A harmonia com a autoridade da Igreja e a
aceitação de suas disposições. Depois de ter fixado regras muito estreitas
para o uso dos carismas na Igreja de Corinto, S. Paulo diz: «Se alguém se crê
profeta ou inspirado pelo Espírito, reconheça no que os escribas um mandato do
Senhor» (1 Co 14, 37).0 autêntico carismático se reconhece por sua docilidade
sincera para com os pastores da Igreja. Um carisma não pode suscitar a
rebelião, nem provocar a ruptura da unidade.
d.
O uso dos carismas na comunidade eclesial está submetido a uma regra simples:
«Tudo seja para a edificação» (1Co 14, 26); isto é, os carismas se aceitam na
medida em que aportam uma contribuição construtiva para a vida da comunidade,
vida de união com Deus e de comunhão fraterna. São Paulo insiste muito nesta
regra (1Co 14,4-5. 12. 18-19.26-32)
c. A colaboração
do confidente
27.
Para nós é importante sublinhar que o discernimento exige também a participação
do carismático, sendo que ele deve aprender a discernir as moções do seu
coração, deve ser transparente em colocar sua experiência e humilde em saber
acolher qualquer decisão que, a final, a Hierarquia da Igreja achar oportuno
tomar.
"Quantos
carismáticos em confusão! Todos querem mandar no campo dos outros.
Não é desta forma
que se consegue a fusão! Só pode sair confusão". (20.12.92) .
Neste
sentido, torna-se de fundamental importância cultivar e valorizar o amor à
verdade, sem a qual todo discernimento ficaria insustentável. Da mesma forma, o
Movimento Carismático de Assis vai ao encontro do confidente para que não fique
isolado, não se feche em si ou, pior, queira administrar o seu presumido
carisma em total independência da Hierarquia.
"Quantos
carismáticos fechados que querem se isolar, que decidem caminhar sozinhos. É necessário,
aos poucos, abri-los, ajudando-os a compreender que devem favorecer a unidade carismática.
Os carismáticos verdadeiros constituem a ·minha verdadeira família. Se uma
família que se acha perfeita, tem seus membros que agem por sua conta e não se
comunicam entre si, não são uma só coisa, não formam um desejado núcleo
familiar. Não tem importância a figura externa para Mim e sim a unidade interna
de toda a família carismática mundial". (5.09.70)
d. O empenho da
Hierarquia
28,
Ao mesmo tempo, torna-se importante que a Hierarquia da Igreja sinta e assuma
seriamente a sua função de discernir os carismáticos e reter o que pode ser
Útil para a comunidade eclesial, superando atitudes preconceituosas, que
infelizmente estão ainda presentes na Igreja Hierárquica, ou outros interesses pessoais
considerados mais importantes.
“A minha admoestação
é agora para os bispos; agora eles sabem, agora devem engajar-se na obra do
discernimento... Agora lhes compete intervir e devem usar bem de sua autoridade...(14.08.73)
"Quando
houver publicamente esta associação, os sacerdotes não chamarão mais de
histéricas ou loucas as pessoas que têm carismas, mas em confissão se limitarão
a dizer 'Não sou competente, mas se dirija a...' Quanto sofreram sempre estas
pessoas pela incompreensão dos sacerdotes..." (15.10.67)
29.
Percebe-se ainda mais a necessidade e a importância do Movimento Carismático de
Assis, querido por Deus, para ir ao encontro da sua amada Hierarquia e de seus
confidentes
prediletos.
Será tarefa do MC, criar as disposições para que de fato se realize um
verdadeiro discernimento entre os pastores da Igreja e os confidentes.
Aos
primeiros, poderá oferecer elementos objetivos de como enfrentar uma avaliação
séria dos fatos, sem, contudo, querer substituí-Ias e sempre respeitando os
passos que estão sendo dados pela hierarquia local.
Aos
confidentes, dará toda a ajuda necessária e possível, para que saibam como
administrar supostos carismas que ainda precisam ser discernidos pela
competente autoridade eclesial. Assim será evitado o perigo de deixar só e
isoladas estas pessoas e a tentação de enveredar pelo seu caminho, por não ter
paciência de apresentar seus dons à Hierarquia.
O
MOVIMENTO CARISMÁTICO DE ASSIS NA ESTRUTURA DA IGREJA
30.
Se até agora ficou clara a necessidade de se falar e de agir para que se
recupere cada dia mais a dimensão carismática da Igreja, pode ser que ficou
meio confJso o que vem a ser, neste contexto, o Movimento Carismático de Assis,
o nosso Me. Fala-se hoje de Igreja Carismática, de Movimento Carismático, de Renovação
Carismática Católica, de Movimento Carismático de Assis e de outras comunidades
ou atividades que se apóiam neste nome e na experiência dos carismas. Como
entender tudo isso, sem cair em generalizações vagas ou confundir as coisas,
acabando por prejudicar todo trabalho do Espírito Santo que se faz presente no
momento atual de nossa Igreja? A luz da experiência destes 40 anos de vida, nós
descobrimos pontos importantes a este respeito para a vida de nossa Igreja.
a. Igreja
Carismática
31,
Devemos reconhecer e falar abertamente da Igreja Carismática corno parte
constitutiva, junto com a Igreja Hierárquica de nossa única Igreja de Jesus
Cristo, que é uma, santa, católica, apostólica e carismática" Agora que o
Papa e os nossos pastores falam sem receio nestes termos, por que esconder
ainda a compreensão mais completa de nossa Igreja, que nos é oferecida?
Também
para Franca ficou confuso no começo. Para ela fvíC e Igreja Carismática parecem
ser a mesma coisa inicialmente. Aos poucos, fatos e sinais começam a aparecer
que tornam hoje para nós mais clara a compreensão.
Quando,
em Assis, na catedral de S. Rufino, Franca participava da S. Missa e sentiu em
seu coração, naquele momento: "Eis hoje se acendeu a primeira pequena
chama da Igreja Carismática” talvez pensasse naquela associação de que Jesus
falava ao seu coração há bastante tempo e que o seu padre espiritual não sabia
como realizar. Por isso, as duas coisas nela se confundem e se identificam.
Graças a Deus que a intervenção do Padre espiritual, proibindo de usar o termo
Igreja Carismática, serviu para, aos poucos, esclarecer melhor as coisas, assim
como as locuções posteriores.
32.
Para nós hoje fica claro que, naquela missa, se acendeu uma primeira chama de
um movimento que iria ajudar a Igreja Hierárquica a redescobrir a outra parte
essencial da Igreja, a Igreja Carismática. Naquele mesmo ano, como antes nos
anos sucessivos ao Concílio Vaticano II, outras pequenas chamas surgiram e
ainda hoje surgem no meio do povo de Deus, obrigando a Hierarquia a dar atenção
aos carismas que o Espírito Santo estava e está repartindo, ainda hoje, na sua
Igreja.
Todas
estas pequenas chamas já se tornaram uma luz que desperta ou deveria despertar
a atenção de bispos e padres, teólogos e pastoralistas" para eles entenderem
melhor as duas partes constitutivas da Igreja e a relação profunda e
indivisível que existe entre elas. Não dá mais para separar as duas: Igreja
Carismática e Igreja Hierárquica, ainda menos querem sufocar uma com a outra.
Já vimos antes o exemplo do 'esqueleto' e das partes, a partir dos textos de S.
Paulo que compara a Igreja ao corpo humano..
Trata-se
agora de aumentar no meio do povo de Deus esta consciência: na pastoral de
nossas dioceses, mas também na CNBB, nos Institutos de formação, nos Seminários,
onde praticamente ainda há pouco ou nenhum espaço para o estudo da Igreja
Carismática, parte constitutiva da Igreja.
b. Dimensão
carismática
33.
Outros preferem falar de 'dimensão carismática' em lugar de Igreja Carismática,
porque assim se evitaria pensar com o termo de 'Igreja Carismática' na fundação
de outras igrejas, como de fato está acontecendo aqui também no nosso Brasil,
mas na África também,
Infelizmente
se pode encontrar na internet alguns site que falam expressamente de Igreja
Carismática, como, por exemplo, o site da Igreja Católica Apostólica
Carismática de Campinas e interior de S. Paulo ou o outro da Igreja Episcopal
Carismática em Recife, etc., mas são novas igrejas que surgem e podem criar
confusão, pois se apresentam também com próprios padres, diáconos e bispos.
Daqui a necessidade de falarmos bem claro da Igreja Carismática como foi
apresentada no começo, parte constitutiva do corpo místico de Cristo que é a
sua Igreja: 'Única amada e sempre renovada Igreja minha',
34.
Por que não usar o termo 'dimensão carismática', pois além de não dar a idéia
de ser outra igreja, facilitaria melhor a compreensão da realidade ec1esiai?
Se
acabamos de dizer, como afirma o Papa, que a Igreja Carismática é parte
co-essencial da Igreja, não pode ser reduzida a uma das suas dimensões, mesmo
que considerada necessária.
Com
o termo co-essencial ao corpo, a Igreja Carismática constitui uma só unidade
com a Hierarquia a Igreja. Sem ela podemos dizer que não há Igreja, assim como
o contrário: sem Igreja Hierárquica, o corpo de Cristo não fica de pé, pois lhe
falta a estrutura que a sustenta, De torna mais simples, dizemos que a pessoa humana
é composta de alma e corpo: ela não pode existir num corpo sem alma, nem numa
alma sem corpo,
Pelo
contrário, há várias dimensões eclesiais que devem estar presente na Igreja,
como a dimensão bíblica, litúrgica, missionária, catequética, sacramental...
São todas elas necessárias à vida da Igreja, Contudo, se por motivos
particulares, faltar uma delas, não deixa de existir a Igreja naquele lugar,
Pode faltar a dimensão missionária agora ou não estar bem animada a dimensão litúrgica
da diocese, mas nem por isso se pode afirmar que não há Igreja,
Se,
porém, não há hierarquia presente: nem padre, bispos ou outra pessoa a ela
ligada, mesmo que tenha muitos carismas, atuando entre os fieis, não há ainda
igreja. O mesmo se diga para uma diocese que fosse reduzida só e unicamente a
padres e bispo, onde eles fazem e absorvem tudo, não dando espaço li qualquer
presença ou colaboração de leigos, religiosas e frades, assim como negando
qualquer possibilidade de serem exercidos os dons ou carismas que o Espírito
Santo ofereceu a esta Igreja particular.
Pode-se
falar, se quiser, de dimensão carismática da Igreja, querendo indicar todo
esforço e toda preocupação que surge numa diocese ou paróquia acerca dos
carismas, mas extrapola o sentido de dimensão. se falar dela como parte
fundamental da Igreja,
c.
Movimento carismático Católico
35
Já quando falamos de Movimento Carismático ainda não estamos falando do MC de
Assis e sim, de toda ação que o Espírito Santo suscita na sua Igreja, em favor
dos seus filhos, por meio de dons especiais. Ele quer abrir espaços ou caminhos
novos para o seu povo e por isso
movimenta
toda a sua igreja com ricas experiências, iniciativas e fatos novos que possam tornar
presente mais uma vez a sua Igreja nos novos contextos, culturas e situações do
mundo atual.
Neste
sentido, o Espírito Santo despertou e continua a despertar, através de carismas
novos, toda uma movimentação ec1esial que ajuda a abrir espaço na vida da
Igreja e a consolidar cada vez mais uma valorização da Igreja Carismática antes
esquecida ou desprezada. Por isso, que nenhuma iniciativa atual, presente na
Igreja e que leva o nome de carismático, pode ser identificada com o Movimento
Carismático que está acontecendo na Igreja, inclusive nem a Renovação
Carismática Católica nem o Movimento Carismático de Assis.
36.
No domingo 30 de maio de 2004, o Papa João Paulo II pronunciou uma homilia aos
dirigentes da Renovação Carismática Católica, falando dos movimentos eclesiais
e chamando-os de "resposta providencial do Espírito Santo para a Igreja
nos nossos dias de hoje". Ele iniciou sua homilia, dizendo textualmente:
"Saído de
maneira especial os membros da Renovação Carismática, uma das expressões da
grande família do movimento carismático católico. Graças ao movimento carismático,
muitos cristãos, homens e mulheres, jovens e adultos, redescobriram o
Pentecostes como realidade viva e presente na existência cotidiana. Desejo que
a espiritualidade de Pentecostes se difunda na Igreja como impulso renovado de
oração, santidade, comunhão e anúncio" ((Homilia, parágrafo 11. 3).
O
Papa reconhece que há um movimento carismático na Igreja do qual a Renovação
Carismática Católica é uma das expressões. Como conclusão: o movimento
carismático, presente na Igreja hoje não se identifica com a RCC, nem com o MC
de Assis ou qualquer outro movimento, mas inclui a ambos e a outras expressões
mais.
d. O Movimento
Carismático de Assis
37.
Chegamos; enfim, ao nosso querido MC de Assis; que neste momento aparece aos
olhos da Igreja Hierárquica como mais um dos vários movimentos que surgiram
depois do Concílio Vaticano II e que manifestam a 'primavera da Igreja' hoje,
segundo as palavras do Papa João Paulo II. Contudo, pelo seu carisma e a sua
finalidade, o MC de Assis não é destinado a fazer parte e compor simplesmente o
rico leque de movimentos eclesiais da nossa Igreja. Ele tem algo que perpassa
todos os movimentos, se insere justamente no Movimento Carismático da Igreja e
atinge, com sua riqueza teológica, suas propostas e sua profunda exigência de
espiritua1idaàe, o coração da Igreja, ao se dirigir diretamente à Hierarquia e
aos carismáticos, à Igreja Hierárquica e à Igreja Carismática, procurando abrir
espaço às novidades de Deus e movimentando todo o corpo místico da Igreja para
que se deixe conduzir pejo Espírito Santo que anima e sustenta o povo de Deus a
caminho da Terra Prometida.
38.
Como já tive oportunidade de refletir junto com vocês, o Movimento Carismático
de Assis se assemelha em parte a outros movimentos que surgiram na Igreja e que
hoje não existem mais, pelo menos como movimentos, mas se tornaram uma dimensão
de Igreja, Inspirados pelo Espírito Santo, eles se propuseram ajudar as
comunidades eclesiais a recuperar, aprofundar ou vivenciar melhor certas
dimensões da Igreja que foram perdidas, esquecidas ou deixadas em segundo plano
por motivos objetivos ou circunstanciais. Na medida em que esta ou aquela
dimensão foi recuperada e se tornou de novo patrimônio vivo da igreja, tais
movimentos foram assimilados pelo corpo todo, cada diocese foi se organizando naquele aspecto e deixaram
de existir como movimentos à parte, com sua estrutura própria e suas atividades
específicas.
c. Movimento
carismático católico
35.
Já quando falamos de Movimento Carismático ainda não estamos falando do Me de
Assis e sim de toda ação que o Espírito Santo suscita na sua Igreja, em favor
dos seus filhos, por meio de dons especiais, Ele quer abrir espaços ou caminhos
novos para o seu povo e por isso movimenta toda a sua Igreja com ricas
experiências, iniciativas e fatos novos que possam tornar presente mais uma vez
a sua Igreja nos novos contextos, culturas e situações do mundo atual.
Neste
sentido, o Espírito Santo despertou e continua a despertar, através de carismas
novos, toda uma movimentação eclesial que ajuda a abrir espaço na vida da
Igreja e a consolidar cada vez mais uma valorização da Igreja Carismática antes
esquecida ou desprezada. Por isso, que nenhuma iniciativa atual, presente na
Igreja e que leva o nome de carismático, pode ser identificada com o Movimento
Carismático que está acontecendo na Igreja, inclusive nem a Renovação
Carismática Católica nem o Movimento Carismático de Assis.
36.
No domingo 30 de maio de 2004, o Papa João Paulo II pronunciou uma homilia aos
dirigentes da Renovação Carismática Católica, falando dos movimentos ec1esiais
e chamando-os de "resposta providencial do Espírito Santo para a Igreja
nos nossos dias de hoje". Ele iniciou sua homilia, dizendo textualmente:
"Saúdo de
maneira especial os membros da Renovação Carismática, uma das expressões da
grande família do movimento carismático católico. Graças ao movimento carismático,
muitos cristãos, homens e mulheres, jovens e adultos, redescobriram o
Pentecostes como realidade viva e presente na existência cotidiana. Desejo que
a espiritualidade de Pentecostes se difunda na Igreja como impulso renovado de
oração; santidade, comunhão e anuncio". (Homilia, parágrafo 11. 3).
O
Papa reconhece que há um movimento carismático na Igreja do qual a Renovação
Carismática Católica é uma das expressões, Como conclusão: o movimento
carismático, presente na Igreja hoje não se identifica com a RCC, nem com o MC
de Assis ou qualquer outro movimento, mas inclui a ambos e a outras expressões
mais.
d.
O .Movimento Carismático de Assis
37.
Chegamos, enfim, ao 110SS0 querido Me de Assis, que neste momento aparece aos
olhos da Igreja Hierárquica como mais um dos vários movimentos que surgiram
depois do Concílio Vaticano II e que manifestam a 'primavera da Igreja' hoje,
segundo as palavras do Papa João Paulo It Contudo, pelo seu carisma e a sua
finalidade, o MC de Assis não é destinado afazer parte e compor simplesmente o
rico leque de movimentos eclesiais da nossa Igreja, Ele tem algo que perpassa
todos os movimentos, se insere justamente no Movimento Carismático da Igreja e
atinge, com sua riqueza teológica, suas propostas e sua profunda exigência de
espiritualidade, o coração da Igreja, ao se dirigir diretamente à Hierarquia e
aos carismáticos, à Igreja Hierárquica e à Igreja Carismática, procurando abrir
espaço às novidades de Deus e movimentando todo o corpo místico da Igreja para
que se deixe conduzir pelo Espírito Santo que anima e sustenta o povo de Deus a
caminho da Terra Prometida.
38.
Como já tive oportunidade de refletir junto com vocês, o Movimento Carismático
de Assis se assemelha em parte a outros movimentos que surgiram na Igreja e que
hoje não existem mais, pelo menos como movimentos" mas se tornaram uma
dimensão de Igreja, Inspirados pelo Espírito Santo, eles se propuseram ajudar
as comunidades eclesiais a recuperar, aprofundar ou vivenciar melhor certas
dimensões da Igreja que foram perdidas, esquecidas ou deixadas em segundo plano
por motivos objetivos ou circunstanciais. Na medida em que esta ou aquela
dimensão foi recuperada e se tornou de novo patrimônio vivo da Igreja"
tais movimentos foram assimilados pelo corpo todo" cada diocese foi se
organizando naquele aspecto e deixaram de existir como movimentos à parte, com
sua estrutura própria e suas atividades especificas.
39.
É o exemplo, entre outros, do Movimento Bíblico e do Movimento Litúrgico que
l111Clafi como um verdadeiro movimento, com fundador, lugar e sede própria, com
pequenos grupos que vão se formando e crescendo, até a Hierarquia da Igreja
assimilar o aporte novo que trouxeram no meio do povo de Deus. Conforme a
caminhada de cada um destes movimentos" sua mensagem foi e está sendo
assimilada pelo corpo inteiro da Igreja, a Igreja Hierárquica e a Igreja
Carismática. Uma vez que se torna patrimônio eclesial e que todas as dioceses a
assimilam ou podem assimilá-la, o movimento deixa de existir como algo à parte
na Igreja, A partir daquele momento, ele fica simplesmente incorporado na vida
daquela diocese, faz parte da caminhada espiritual das paróquias, é assimilado
pelo corpo ec1esial inteiro.
Hoje
podemos encontrar movimentos, grupos e comunidades em toda parte da Igreja, que
se inspiram no caris ma inicial destes movimentos, mas eles mesmos não existem
mais como movimento, pois foram definitivamente incorporados ao patrimônio da
Igreja,
A
CONTRIBUIÇÃO DO MOVIMENTO CARISMÁTICO DE ASSIS
40.
Depois de 40 anos em que podemos dizer que o Movimento Carismático de Assis
contribuiu para a vida da Igreja ? Com humildade e consciente de nossos
limites, podemos afirmar que a Trindade Santa se serviu de nós como MC de Assis
para colaborar na Igreja nestes pontos:
1. Unidade da
Igreja
41.
"O MC na Igreja prepara o rebanho para ter um só pastor". (15.11.89)
Desde o começo o Senhor ensina que o interesse para com os confidentes e os
carismas deve ser de todas as Igrejas (ouvi todos, sacerdotes e pastores,
católicos e não católicos..), pois através destas pessoas de várias
denominações cristãs o Senhor vai favorecer a unidade de sua Igreja, sendo que
a todas elas Ele se manifestará e dirão as mesmas coisas que Ele for revelando.
Por isso, em nossa programação anual, privilegiamos a Semana de Oração pela
Unidade dos Cristãos, tempo propício de encontro com irmãos e irmãs da mesma fé
cristã. Mas também estamos atentos a um diálogo construtivo para com eventuais
confidentes de outra religião, Contudo, esta unidade deve ser procurada também
dentro da nossa Igreja Católica: entre os movimentos eclesiais, hierarquia e
fieis, as pastorais, as paróquias entre si... Como Movimento Carismático de
Assis nós estamos ainda muito no começo aqui no Brasil e devemos, sem dúvida,
colaborar mais neste sentido.
(Cf
também locuções de 15.03.67 - 25.02.67 -13.08.68 ~ 01.06.69-14.08. 73 -15.08.74
- 05.02.70 -23.10.89)
2. Reavivar a
esperança
42.
"Quero fazer novas todas as coisas, inclusive a Hierarquia" (20,4,
(8) Num mundo de trevas cada vez mais densas é a luz de Cristo que deve
resplandecer a cada dia sempre mais, Mas Cristo, luz do mundo, deve ser
compreendido, prestando atenção à sua palavra passada, presente e futura, que
deve ser bem impressa no coração e na mente para sempre. Daqui surge a obrigação
de por ordem moral em nossos ambientes onde vivemos: a família, a comunidade, o
lugar de trabalho, a Igreja e a sociedade onde estamos, pois aqui cada um de
nós é diretamente responsável pelo que acontece. Jesus Quer renovar a sua Igreja
em todas as suas j
partes.
Nestes
anos contribuímos neste ponto ensinando, inculcando e praticando sempre um grande
amor à verdade, um dos pontos firmes de nossa espiritualidade e de nosso
compromisso ("confirmando a promessa
de ser em tudo amante da verdade"). (Cf. também locuções de 20,04.68·09.07.71-
27.04.72 ·30.12.67 - 30.05.75)
3. Ajudar a Hierarquia para acolher,
discernir e permitir o uso dos carismas
43.
“Franca,.. salva a Igreja, eu te escolhi
para inserir a Igreja Carismática na Hierarquia" (jan.69)
Para
que a Hierarquia possa receber as vozes dos profetas de hoje é necessário que,
por primeiro, ela mostre interesse, se abra aos carismas sem medo e sem
preconceito, com carinho e humildade. Da parte do Movimento Carismático de
Assis deve ter a preocupação de fazer conhecer aos bispos e padres esta parte
essencial de nossa Igreja, para que como Hierarquia possa exercer o
discernimento destes dons, tarefa que cabe unicamente a ela. Além disso, cabe
também a eles permitir e autorizar o uso ou menos destes dons. Neste sentido,
muito ajudaram os congressos que o Movimento Carismático de Assis realizou
nestes anos, a partir do primeiro de Manaus, que foi justamente sobre o
Espírito Santo e os carismas. Da mesma forma, revelaram-se importantes os
contatos com bispos de várias dioceses, que ajudaram a favorecer uma atitude
mais atenta aos confidentes e a toda esta realidade carismática.
(Cf.
também locuções de 23.10.73 - 11.12. 75)
4. Aconselhar o
Papa e os bispos
44.
H... O MC existe para que o Papa conheça as vozes dos meus profetas" (27.
01.81) Se o Senhor nada faz sem antes anuncia-Ia aos seus profetas (.4m 3,7;
4,13; Ez 13,1.16), é dever da Hierarquia ir ao encontro destes profetas, cada
Bispo deveria procurar em sua diocese estes profetas e os padres e irmãs
assinalarem aos bispos estas pessoas carismáticas, com uma documentação séria e
precisa. O 1vlC colabora para que estas vozes possam se tornar conhecidas aos
bispos por meio de material recolhido sobre elas ou de dossiê que apresente
sinteticamente o quadro da profecia na. diocese.
Aqui
o Centro de Estudos do Movimento Carismático de Assis é chamado a dar uma maior
contribuição, por isso espera que, neste ano, possa se organizar melhor e
encontrar também forças novas, sobretudo padres, que venham integrar a equipe
do Centro. (Cf. loc. 22.07.88)
5. Orientar os
confidentes
45. "Também os carismáticos devem ter o
reconhecimento da Igreja. Por isso, às vezes os carismáticos erram, porque não
têm a autoridade da Igreja. A Igreja Hierárquica está acima da Igreja
Carismática. Por isso, faz-se necessário o discernimento, para depois ter a
autorização para agir. Então os carismáticos fariam as mesmas coisas que eu fiz".
(20.04.90)
Cada
carismático é como uma página de um grande livro que o Me deve apresentar à
Hierarquia, por isso o Movimento Carismático de Assis deve interessar-se dos
confidentes e ajudá-los na vivência deste aspecto de sua vida de fé. Com grande
amar à verdade e à justiça, devem ter a humildade de querer apresentar ao seu
bispo os seus dons, para depois receber, quando este achar oportuno, a autorização
de agir na comunidade eclesial.
Por
sua vez, o Movimento Carismático de Assis é solicitado pelo Senhor para dar
ajuda;
sustento,
apoio aos vários confidentes, para que não se deixem manipular ou
instrumentalizar por pessoas que surgem ao seu redor e que podem ser causa de
grande sofrimento. O verdadeiro carismático sabe esperar com paciência nestes
momentos e não se fechar ou cair na indiferença. É sempre bom para um
confidente saber que pode sempre contar com o Movimento Carismático de Assis.
Aqui todos nós, amigos e consagrados ao MC, devemos empenhar-nos mais, indo
além da curiosidade inicial de conhecer mais algum confidente. Não podemos
deixar que os confidentes esperem demais a nossa ajuda... sempre lembrando que “a Igreja Carismática é a união dos
carismáticos em oração. O M.C é a ação que eles cumprem para por em prática os
meus dons". (07,()7 72) (Cf. também locuções de 13.11.76 - 23.01.76
-05.02.76 - 25.06.77 - 31.03.76 - 15.03,79 - 21.10.83 -
6, Reconstruir
Sião
46.
O Senhor sempre me diz "A Igreja
Carismática é a reconstrução de Sião" (28.04.68) Imagem muito forte,
pois Sião é o monte de Jerusalém e simboliza todo o povo eleito de Deus. Todos
a querem: hebreus, muçulmanos e cristãos. Os três povos, então, devem empenhar-se
para que Jerusalém seja a cidade de todos e que nela possa voltar definitivamente
a paz que se irradiará pelo mundo inteiro. Para alcançar este mundo de paz é
necessária a colaboração de todas as pessoas de boa vontade e também da Igreja
Carismática, que deverá ajudar a pôr em prática os carismas e orar com os
carismas na comunidade eclesial
7- Organizar-se
carismaticamente
47-
"A Igreja Carismática é como a
aurora do dia.nem todos ainda a percebem, mas irá crescendo" (12. 05.
69) "O MC é o único que na estrutura
da Igreja nunca desaparecerá, porque sempre existirão carismáticos." (02.05.87) "Não sabeis que chegastes aos tempos
de Joel (3,1-5), preditos por ele?
Organizai-vos carismaticamente. Aqui deposito o meu olhar, diz o Senhor!”
"Organizar-se carismaticamente quer
dizer: ouvir interiormente o Senhor. Quando quer que se atue com o carisma e
organizar-se misticamente é o orar juntos com as orações dadas aos
carismáticos... Meditai as locuções e gravai-as no seu coração... Seria: teoria
e prática",
(11.02.80)
-
Dicastério: Por parte dos bispos
deveria ser solicitado ao Vaticano a criação de um novo dicastério, para que por
intermédio dele possam ser ajudados a discernir as fatos carismáticos maiores e
de projeção mundial, possam tomar em consideração as vozes, que dizem falar em
nome de Deus e dar orientações ao povo de Deus sobre esta realidade
carismática, presente em nossa Igreja. (05.11.73)
-
Comissão regional ou nacional: seria
um centro de estudos permanente para recolher todo material e fato de uma
região ou pais. Dela fariam parte várias pessoas que devem entrar
necessariamente no estudo e discernimento dos carismas.
-
Pastoral carismática: o Movimento
Carismático de Assis existe para os confidentes chegarem com a aprovação da
Hierarquia ao uso dos carismas. Contudo, para chegar a desenvolver estes dons,
faz-se necessário antes conhecer quais dons existem na comunidade, fazer um
verdadeiro discernimento por parte da Hierarquia local e, enfim, permitir o uso
deles, o que significa organizar uma pastoral carismática. (cf 04. 10.87)
-
Escola de Espiritualidade: deve
ajudar a formar as pessoas do Movimento à espiritualidade do Movimento
Carismático de Assis e para distribuir a riqueza espiritual que for doada para
a Igreja, a partir das mensagens, fatos e locuções carismáticas.
-
Centro de Estudos; é responsável pelas publicações do Movimento, deve organizar
os cursas e programa pela escala de Carismatologia, aprofundar vários estudos
no campo da mística, estudar profundamente a antropologia divina e combater as
heresias em campo carismático.
-
Escola de Carismatologia: desenvolve
entre as carismáticos reunião de oração e reunião de escola de Carismatologia
com cursos e testes. Aqui será o teste para tantos movimentos carismáticos e
pentecostais que surgirão (a minha espada
para separar a ciência divina simulada) (Cf 12.07.75)
CONCLUSÃO
No
fim desta minha colocação, apraz-me dirigir um olhar todo especial a Nossa
Senhora, no Cenáculo, junto com os apóstolos. Se, ao pé da cruz, Jesus a tornou
Mãe dos apóstolos confiando-lhe João como filho, isto é, a tomou mãe da Igreja
na sua parte constitutiva hierárquica, aqui no dia de Pentecostes, onde todos
estão reunidos em oração, Nossa Senhora sente-se também mãe da Igreja na sua
dimensão constitutiva carismática.
Como
mãe da Igreja, Nossa Senhora é mãe da Igreja Hierárquica e da Igreja
Carismática. A Virgem Maria torna-se para nós modelo de ambas estas partes
co-essenciais da nossa Igreja: como mãe de Deus, que gerou e doou ao mundo
Jesus, é modelo para os chamados a oferecer a humanidade Jesus, guiando o povo
de Deus pelo exemplo de suas vidas, a pregação da Palavra e a celebração dos
sacramentos (a Igreja Hierárquica). Mas ao mesmo tempo, como esposa do Espírito
Santo, que a tornou cheia de graça e repleta de todos os dons, com que o
Espírito Santo adorna a sua esposa, Nossa Senhora é modelo também para os
agraciados de dons comuns ou extraordinários, pelo mesmo Espírito (a Igreja
Carismática).
Nossa
Senhora, com sua maternal intercessão, atraia todo Povo de Deus no caminho da
santidade e docilidade ao Espírito. Ajude para que a nossa Igreja saiba
harmonizar em si estas duas partes constitutivas que lhe são próprias e
manifeste em toda sua eficácia, a unidade e fecundidade da ação do Espírito Santo
nela.
Ao
mesmo tempo, como Rainha e Mãe também do Movimento Carismático de Assis,
queremos continuar, nestes próximos anos, a cumprir os desejos e a vontade de
Nossa Senhora, em fidelidade e obediência à hierarquia de nossa Igreja (Igreja
Hierárquica) e em serviço e apoio aos nossos irmãos e irmãs confidentes e
profetas (Igreja Carismática). Por isso, pedimos que Ela abençoe as nossas
mãos, as nossas intenções de bem e esteja sempre à nossa frente, para que em
nossas atividades possamos cumprir a missão que Jesus quer com o nosso
Movimento.
O Senhor reina,
alegremo-nos, pois Ele vem.
Salvador,
21 de fevereiro de 2007
P.
João Pedro Comado, SI
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