As caraterísticas do carismático tocam em aspectos de
vida espiritual bastante comuns a todos os cristãos, que buscam corresponder em
sua vida às exigências do seu batismo.
Isso nos faz compreender que o carismático não é uma
pessoa especial, como se fosse um santo ou uma pessoa complemente diferente dos
outros, porque tem dons extraordinários. Fundamentalmente o carismático é uma
pessoa que vive na Igreja, com a Igreja e pela Igreja sua vocação de cristão,
sua caminhada de filho de Deus.
AS
CARATERÍSTICAS DO CARISMÁTICO
Os traços marcantes da figura de um carismático são
mais simples do que se possa pensar:
1. O CARISMÁTICO DEVE SER REALIZADO COMO
PESSOA HUMANA.
É a característica fundamental, que pode dar
credibilidade ou não ao que o carismático possa afirmar ou realizar.
Deve se sentir feliz e contente na sua caminhada de
fé. Ele também tem seus problemas, os seus defeitos, a sua história com as
limitações humanas que as circunstâncias, as pessoas e os acontecimentos sempre
impõem a todos.
O seu carisma se apresenta em sua vida não como fruto
de compensações afetivas, de frustrações várias ou de complexos antigos, mas
como vontade sincera de servir ao Senhor e aos outros, com suas capacidades
naturais e com os dons especiais, que às vezes podem aparecer no horizonte de
sua vida.
"SOMENTE ONDE EXISTE A REALIZAÇÃO COMO
PESSOA, HÁ TAMBÉM A MAIOR GLÓRIA DE DEUS"
O carismático deve,
portanto, demonstrar de ter um grande equilíbrio, uma grande capacidade de
continuar sua vida com o mesmo empenho que deve animar qualquer um, procurando
exercer o bom uso dos dons ordinários e extraordinários, para o bem dos irmãos
e nunca movido por um desejo inconsciente ou consciente de parecer o melhor ou
pelo desejo somente de uma afirmação pessoal.
2. O CARISMÁTICO DEVE SER HOMEM E/OU
MULHER DE GRANDE ORAÇÃO.
Nele a vida de oração deve ter uma dimensão toda
especial. Em comunhão com o Senhor, Deus da nossa vida e da nossa história, ele
se percebe sempre mais como um instrumento nas mãos dele, desejoso de realizar
somente a vontade dele, que se manifesta em primeiro lugar dentro da vocação
pessoal, que cada um escolheu ou pretende escolher.
Na sua vida de oração, o carismático deve prestar
atenção a:
a) Rezar bem, porque a oração é abertura do coração ao
diálogo com Deus. “O carismático de oração não é aquele que reza horas e horas,
só para dizer "rezei muito", mas é aquele que reza com atenção, com
abertura de coração à confiança de Deus; é aquele que não esquece que a oração
é colóquio com o Altíssimo. Por isso, o carismático deve curar a sua maneira de
rezar, se não a sua oração se torna como zumbido de abelhas, só faz ruído”.
b) Buscar a intimidade com Deus no silêncio e na
adoração e sobretudo na celebração eucarística, onde melhor se efetua esta
união íntima com o Senhor. O carismático deve prestar bem atenção a não
desperdiçar esta intimidade com Deus, mas a aprofundá-la sempre mais.
c) Bendizer a vontade do Senhor, sobretudo quando o
carismático percebe que o seu carisma exercido não dá sempre os seus frutos.
Neste momento, é importante então oferecer ao Senhor esta humilhação, renovando
da mesma forma sua fé nele. Deus que tudo vê saberá se servir de todo esforço
seu, mesmo sem percebê-lo. Assim como nem sempre sopra a palavra, nem sempre
sopra a ação. É necessário aprender a bendizer sempre a vontade de Deus.
d) Rezar para os carismáticos, para os que sofrem, que
vivem isolados e fechados em si, que ainda não entenderam que o carisma ou dom
recebido é para os outros e não para si, que ainda não aprenderam a viver na
amizade com os outros carismáticos. Sobretudo é importante rezar junto aos
outros carismáticos, para conseguir milagres do céu e louvar o nome do Senhor,
se é no nome dele que os carismáticos deverão fazer prodígios com os seus
carismas.
REZAR JUNTOS PARA OS CARISMÁTICOS É "LINFA VITAL".
3. O CARISMÁTICO DEVE SER OBEDIENTE À
HIERARQUIA DA IGREJA
O amor filial à Igreja é uma característica
indispensável, que sobretudo deve manifestar-se na obediência serena e humilde
à Hierarquia. Vários carismáticos se perderam ou se perdem ainda hoje, porque
não se preocuparam de cultivar em si esta disposição fundamental da vida de
todo cristão. Pelo contrário, a obediência fiel para com a Hierarquia se torna
motivo de maior luz para todos. O Senhor age na ordem e não no caos, na
confusão. Por isso, os carismáticos devem ser orientados pela Hierarquia, a
qual por sua natureza é chamada a discernir os carismas. Esta submissão à
Hierarquia não deve ser diplomática ou interesseira, mas deve ser sincera,
obediente e humilde.
4. O CARISMÁTICO DEVE SER VERDADEIRO,
PURO, LEAL E FIEL
A virtude que mais claramente deve manifestar-se num
carismático é o amor à verdade, procurando não deixar-se enganar, nem enganar
os outros. Por isso todo carismático deve fazer uma promessa a Deus de ser em
tudo amante da verdade, seja nas coisas extraordinárias assim como em todos os
momentos de sua vida. Saber tornar-se verdadeiros adoradores do Pai, que adoram
em espírito e verdade.
Se tem este amor à verdade, o carismático será também
muito humilde, reconhecendo a necessidade de ser avaliado pelo Hierarquia da
Igreja, aceitando de confrontar-se com outros carismáticos, aceitando a espera
sofrida da realização do que ele anuncia, estando aberto e disponível para
qualquer missão o Senhor queira lhe pedir.
Se, enfim, existem no carismático pureza, lealdade e
fidelidade, a caridade por si mesma estará abundantemente presente.
COMO DEVE ORGANIZAR-SE O CARISMÁTICO
Em nível pessoal, é necessário que o
carismático se organize, sendo que o dom extraordinário de Deus não tira a
iniciativa pessoal. Pelo contrário, ele pode condicionar muito a manifestação
dos dons e até sufocar ou anular a iniciativa de Deus.
O
que pode fazer, então, o carismático? A ele cabe:
1. Conhecer e saber exercitar a prática do
discernimento para poder compreender o que vem de Deus e o que pode ser simples
interferência pessoal ou influência dos outros. Momento propício para este discernimento
pode ser um retiro, os exercícios espirituais, dias de deserto...
2. Escrever as locuções ou mensagens que sente. Este
gesto se torna para o Senhor o maior gesto de confiança nele, sem com isso
presumir já a veracidade de toda e qualquer coisa, só pelo fato de ter escrito
a locução.
3. Realizar na prática e ajudar para que as várias
locuções possam ser atuadas, sabendo que o mais importante não é o que vem dito
ao carismático, mas o que for realizado por ele, sendo tais ações o cumprimento
do amor de Deus.
4. Manter uma atitude de filial obediência à
Hierarquia, que para ele pode ser representada pelo padre espiritual, o Bispo,
uma comissão especial para isso constituída. São as pessoas que na Igreja são
chamadas a discernir os vários carismas e a reter o que é bom para o seu uso na
Igreja.
O verdadeiro carismático deseja e gosta de deixar-se
questionar ou discernir pela Hierarquia, porque quer ter certeza que o que
sente vem de Deus e porque sabe que todo dom deve ser colocado a disposição dos
irmãos e a serviço da Igreja.
5. Sensibilizar as grandes massas, que ainda nada sabem
sobre os carismas. Pode fazer isso de várias formas, mas cada carismático,
também o mais escondido, deve prontificar-se a falar e a ensinar. É necessário
sensibilizar o mundo, mesmo enfrentando reações negativas ou obstáculos. Os
carismáticos, enfim, que acham ter capacidades para pregar nas igrejas, nos
conventos, nos cenáculos devem estar dispostos para exercer este serviço.
6. Aderir ao Movimento Carismático (M.C.), inspirado
pelo Senhor, para reunir todos os carismáticos do mundo, a fim de que possam
confrontar os seus carismas com os dos outros, aprender a discerni-los com a
ajuda da Hierarquia e a oferecê-los para o bem da Igreja.
O carismático que não sente esta necessidade é um
carismático pela metade, porque não possui a plenitude do Espírito Santo. Quem
de fato se une aos outros carismáticos no MC é como se fosse promovido pelo
Senhor. Recebe a graça de estado para exercer o seu carisma e não corre o
perigo de debandar. Pertence ao MC todo aquele que assume plenamente seu
compromisso de fé nas obras extraordinárias de Deus e procura testemunhá-las na
comunidade eclesial, depois de ter pronunciado um ato de consagração ao Senhor, assinado pessoalmente.
OS PERIGOS DE UM CARISMÁTICO
Não é difícil imaginar a quantos
perigos pode ser exposto o carismático. Já se acenou a algo anteriormente. Como
cristão, o carismático corre todos os perigos que se apresentam a quem quer
seguir o caminho do Senhor, mas, além disso, pode enfrentar maiores
dificuldades por causa dos dons recebidos.
1. Não querer
apresentar seus dons à Hierarquia - Se um carismático não tem paciência
para manifestar à Hierarquia da Igreja os seus carismas ou não possui humildade
suficiente para aceitar de ser avaliado, facilmente ele pode desviar-se do
caminho, servir-se do seu dom a seu bel prazer e perder assim a missão que o
Senhor queria lhe confiar.
2. Não sentir a
necessidade da união - É urgente que se realize a unidade dos carismáticos,
fruto do Espírito Santo, que quer reunir todas as pessoas favorecidas por
carismas extraordinários. Existem carismáticos que preferem isolar-se, caminhar
sozinhos, sem compreender que devem favorecer a unidade carismática. Somente
assim podem evitar o perigo de "perder o horizonte", no qual deve
estar presente o seu carisma, e o perigo de não saber mais o que fazer.
3. Não saber
superar as provas da perseverança - Na vida do carismático, existem
momentos, em que surgem incompreensões e às vezes injustamente. Pessoas boas
que podem nos contrariar, projetos bons que não se realizam. São as provas da
perseverança. O inimigo, não conseguindo pegar quem já é de Deus, o provoca
naquilo ou naquelas pessoas que o circundam. É necessário perseverar no amor do
Senhor, sem desanimar, sem diminuir a oração, sem perder a justa visão das
coisas, sem fraquejar na fé e na caridade.
4. Deixar-se
vencer pela soberba e pelo orgulho - O perigo da soberba pode começar com
pequenas coisas que nos irritam, que nos fazem perder a paciência., levando a
gente a faltar ao amor e a ficar triste.
Pode também acontecer que o carismático se sinta
orgulhoso pelo dom recebido e se sinta como dono dele. É este o perigo
principal, que pode levá-lo a não se comportar de forma correta, a contrapor-se
a outros carismáticos, a não querer se unir com os outros carismáticos,
sobretudo quando pode entrar em jogo interesses pessoais ou situações de
privilégio.
"Os carismáticos que se contrapõem a outros
são os que têm medo de perder
o seu estado de privilégio, sobretudo financeiro.
Não somente o Senhor quer confundir os soberbos,
mas também quer confundir os carismáticos soberbos"
são os que têm medo de perder
o seu estado de privilégio, sobretudo financeiro.
Não somente o Senhor quer confundir os soberbos,
mas também quer confundir os carismáticos soberbos"
Uma atitude de soberba pode induzir o carismático a
colocar a sabedoria em primeiro lugar, esquecendo que antes de mais nada é
sobretudo o amor, a humildade, a submissão à Hierarquia, a obediência e a
lealdade.
5. Querer
antepor-se a Deus - É a tentação de não querer que o Senhor nos conduza,
ele que quer atuar na nossa história por meio dos carismáticos também. Por
isso, devemos respeitar os tempos do Senhor e os seus métodos para realizar as
obras, procurando ser humildes, pacientes, sem precipitar-se, respeitando os
momentos de Deus, ele que dirige a história e que guia os carismáticos.
6. Viver em
estado de graça de forma habitual, porque o carismático, que não vive assim
e não se esforça de viver a amizade com Deus, pode perder a clareza das
locuções, perder o sentido ou valor delas, porque é como se ficasse obstruída a
audição da alma e do coração
7. Amar o
extraordinário mais que a verdade. É o perigo maior que pode estar presente
na vida do carismático. Pelo contrário, é necessário que o carismático, com
todas as suas forças, ame a verdade mais do que os mistérios, se não quer
correr o perigo de se tornar um sonhador, de afirmar coisas não verdadeiras e
de enganar a si mesmo e aos outros. Com a verdade se atua, não se sonha.
8. Não querer
associar-se ao Movimento Carismático (MC) - Todo carismático é convidado a
por em comum os dons recebidos, para que possam ser melhor avaliados e
submetidos à aprovação da Hierarquia. Por isso existe o MC, que Deus parece
querer para que se realize a união dos cristãos através a união dos carismas a
serviço da unidade da Igreja. Para muitos carismáticos pode parecer difícil
aceitar esta dependência do MC, mas devem saber que quem recusa de participar
corre o perigo de debandar, de sair do caminho, mesmo sem percebê-lo.
O Senhor, de fato, quer
que todo carismático entregue a sua "página" para constituir o seu
grande "livro". Isso, porém, só é possível em comunhão com o MC de
Assis, para que, através da unidade dos carismáticos, se realize a união dos
cristãos.
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